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Estou em crer que Os Maias é uma história muito simples, feita de simetrias reveladoras.
Querem ver?
Por exemplo:
Por exemplo:
Gastão de Gouvarinho, ministro de coisas incertas, que achava que Luanda só precisava de um pequeno aperfeiçoamento, um teatro lírico onde a gente bem vestida e civilizada fosse repousar os cansaços de colonizadores, era casado com Teresa Thompson que o trai com Carlos da Maia porque o Carlos da Maia é um «dandy», uma forma superior de ser português que só se adquire depois de passear por Paris, Berlim, Londres.
Esse mesmo Carlos, por sua vez também a trai com a Maria Eduarda, a qual é também uma «dandy» "três chic", como diz o Craft, e, também ela com o inconfundível toque parisiense.
Esse mesmo Carlos, por sua vez também a trai com a Maria Eduarda, a qual é também uma «dandy» "três chic", como diz o Craft, e, também ela com o inconfundível toque parisiense.
A Maria Eduarda, porém, apesar de companheira do brasileiro Castro Gomes, era já cortejada pelo invejoso e vingativo Dâmaso Salcede, personagem cuja patetice vai sendo sobejamente sublinhada por toda a gente. E tudo acaba em mal, por causado de «Mr. de Guimarães», o afrancesado revolucionário que revela o chegado parentesco dos dois amantes - afinal os «dandys» eram irmãos.
E enfim, quem é que triunfa nesta enredada comédia de enganos?
Não é a pobre Thompson que julgou ver em Carlos o homem diferente, médico num país de bacharéis em Direito e de amanuenses, com um perfume de civilização e de cultura e, pobre dela, acaba desenganada.
Também não é a abusada Maria Eduarda, criada ao Deus dará entre gente reles e que julgou ver a redenção ali mesmo, numa casinha nos Olivais onde o amante a ia visitar.
Nem Carlos, cuja carreira de médico e de investigador se perdeu entre namoros e jantaradas.
Quem ganha, quem ganha sempre neste país ingovernável, são os Gouvarinhos que fazem carreira em políticas de «sabe Deus», chegam a ministros e jantam com a banca.
E, como que para garantir a simetria, ganha o Dâmaso, claro. Não se pense que, por ter sido humilhado e escarnecido, não teve a sua vingança de pretendente desprezado: em Eça, nada é tão simples como aparenta.
O poeta Alencar é a imagem viva do pai de Maria Eduarda e de Carlos.
E o revolucionário Mr. de Guimarães, é, pela antítese, a imagem em negativo do inútil e pomposo Dâmaso. E, para que nós, leitores, não nos enganemos Eça não se esquece de sublinhar que o afrancesado portador das más novas, afinal, é um tio do Dâmaso.
Uma história muito simples, como se vê.
Uma história muito simples, como se vê.
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