quarta-feira, dezembro 31, 2014

As Figuras do Ano: os reis eméritos de Espanha e de Portugal

He-he-he...

Ando há que tempos à espera de que essa mania de escolher a figura do ano, a cada ano passa, passe ela-própria de moda como costumam passar, mais ano, menos ano todas as figuras do ano. Complicado? Nem por isso.
Desta vez a sorte quase universal coube ao Cristiano Ronaldo. Não houve cão nem gato que não inchasse um nadinha o papo para reconhecer que o futebolista do Real Madrid era a personalidade incontornável, e tal e coisa.
Não é o meu caso, que nem sequer me dou ao trabalho de detestar o futebol. Quero que ele vá dar uma volta e que volte o mais tarde possível porque ainda me lembro do Euro 2004 e das vuvuzelas.
Não, mesmo sem gostarmos dessa mania, aqui no Portugal, Caramba! decidimos que não podíamos ficar atrás de ninguém e escolhemos, não uma, mas duas «figuras do ano». E, como somos exagerados, não hesitariamos em dizer mesmo «figurões do ano» se não temêssemos que os nossos leitores o achassem assim tipo, pejorativo. 
São eles Juan Carlos de Bourbon e Ricardo Espírito-Santo Silva Salgado. 
D. Juan Carlos, lembram-se, dizia-se que era o Rei  de Espanha, mas, em calhando era só ali de Castela e não muito mais: sabe-se lá o que pensavam dele os Catalães ou os Bascos, por exemplo. Mas adiante - D. Juan Carlos, portanto, farto da sua real pasmaceira, um dia, pimba! Deu cabo do canastro a um velho e enorme elefante que, provavelmente, gozava os seus idosos dias e uma merecida reforma algures numa reserva daquelas que, atroz eufemismo, se dizem "de vida selvagem".
Perguntarão: eufemismo porquê?
Ora, porque, por muito reservada que seja a reserva, há sempre um dia em que uma vida selvagem  lá consegue entrar com uma carabina Mannlicher nas unhas e zás! Elefante para o caraças.
Pobre rei. Se já não era muito amado, já não digo pela raínha Sofia, mas ao menos pelo povo leitor da Holla, o assassínio do velho elefante foi o golpe final.
Juan Carlos dignamente (ou não) abdicou.
Isto, como toda agente sabe, foi em Espanha.
Em Portugal também havia um rei.
D. Ricardo I, soberano disto tudo e, quem sabe se pretendente ao trono de Angola, tanto quanto é do conhecimento público, não matou o seu elefante. Aliás, tinha uma enorme manada deles, quase todos brancos. Quando já não conseguia mantê-los disciplinadamente a fazer habilidades no circo, consta que os terá largado na loja de porcelanas a que chamamos «a banca». (1)
E abdicou também.
Em Espanha havia um herdeiro, Filipe de seu nome que passou pelas Cortes e ficou bem no exame. Havia outra herdeira, mas, infelizmente, do sexo feminino. Em Espanha pode-se ser discriminada por muita coisa, por exemplo, por ser partidário da autodeterminação do seu cantãozinho natal. Ou então, por ser mulher. A pobre princesa teve menos sorte do que a cunhada D. Letícia que era plebeia e chegou onde chegou.
Mas o que é que isto interessa? Nada.
Mas, dado que Sua Majestade El-rei D. Ricardo I também abdicou, e estes lugares não costumam ficar vagos por muito tempo, seria, talvez, engraçado que o príncipe herdeiro, chame-se ele José Maria ou qualquer outra coisa, passasse ali pela Assembleia da República a receber a vénia dos deputadecos que por lá estivessem.
Ao menos ficávamos a saber a quem irão, a partir de agora, prestar vassalagem os nossos representantes.
Era fixe, não era?
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(1)  Ainda andam por lá a varrer os cacos. Mas do que já se vai percebendo, a «loja das porcelanas» afinal o que tinha por lá mais era umas canecas tipo manhosas, importadas de Singapura ou de quaisquer outros sítios desses. 

domingo, dezembro 28, 2014

FELIZ ANO NOVO, Ó GENTE BOA! (E má também, que remédio...)

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O Portugal, Caramba! deseja-vos um Ano Novo tão bom como o que o Sr. Passos Coelho pintou no seu discurso de Natal.

segunda-feira, dezembro 22, 2014

Os Maias e as suas personagens


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Estou em crer que Os Maias é uma história muito simples, feita de simetrias reveladoras.
Querem ver?
Por exemplo:
Gastão de Gouvarinho, ministro de coisas incertas, que achava que Luanda só precisava de um pequeno aperfeiçoamento, um teatro lírico onde a gente bem vestida e civilizada fosse repousar os cansaços de colonizadores, era casado com Teresa Thompson que o trai com Carlos da Maia porque o Carlos da Maia é um «dandy», uma forma superior de ser português que só se adquire depois de passear por Paris, Berlim, Londres.
Esse mesmo Carlos, por sua vez também a trai com a Maria Eduarda, a qual é também uma «dandy» "três chic", como diz o Craft, e, também ela com o inconfundível toque parisiense.
A Maria Eduarda, porém, apesar de companheira do brasileiro Castro Gomes, era já cortejada pelo invejoso e vingativo Dâmaso Salcede, personagem cuja patetice vai sendo sobejamente sublinhada por toda a gente. E tudo acaba em mal, por causado de «Mr. de Guimarães», o afrancesado revolucionário que revela o chegado parentesco dos dois amantes - afinal os «dandys» eram irmãos.
E enfim, quem é que triunfa nesta enredada comédia de enganos?
Não é a pobre Thompson que julgou ver em Carlos o homem diferente, médico num país de bacharéis em Direito e de amanuenses, com um perfume de civilização e de cultura e, pobre dela, acaba desenganada.
Também não é a abusada Maria Eduarda, criada ao Deus dará entre gente reles e  que julgou ver a redenção ali mesmo, numa casinha nos Olivais onde o amante a ia visitar.
Nem Carlos, cuja carreira de médico e de investigador se perdeu entre namoros e jantaradas.
Quem ganha, quem ganha sempre neste país ingovernável, são os Gouvarinhos que fazem carreira em políticas de «sabe Deus», chegam a ministros e jantam com a banca.
E, como que para garantir a simetria, ganha o Dâmaso, claro. Não se pense que, por ter sido humilhado e escarnecido, não teve a sua vingança de pretendente desprezado: em Eça, nada é tão simples como aparenta. 
O poeta Alencar é a imagem viva do pai de Maria Eduarda e de Carlos.
E o revolucionário Mr. de Guimarães, é, pela antítese, a imagem em negativo do inútil e pomposo Dâmaso. E, para que nós, leitores, não nos enganemos Eça não se esquece de sublinhar que o afrancesado portador das más novas, afinal, é um tio do Dâmaso.
Uma história muito simples, como se vê.