quinta-feira, maio 28, 2009

Ironia


"A forma natural da ironia é a litote - quer dizer que a ironia, como todo o pensamento senhor de si próprio, opera a fortiori. O que pode o mais, «por maioria de razão» pode o menos. A litote deflaccionista é o oposto diametral da ênfase, que é inflação e grandiloquência vã, e que não produz senão vento. Aristóteles considera a eironeia como a «carência» de uma virtude cujo «excesso» se chamasse alazoneia ou fanfarronice ..."

Vladimir Jankélévitch, L'ironie, Flammarion, 1964


Às vezes penso.
Vivemos num mundo de sabichões, de preferência televisivos.
Vocês conhecem-nos: têm o ar de «a-gente-é-que-sabe e vocês são umas bestas»; escondem-se por trás das suas organizações - económicas ou religiosas umas, politicas outras, financeiras todas - como as lesmas e os insectos se escondem da luz debaixo das pedras.
Que verdade nos resta senão a pergunta mais homeless, mais ignorante, mais mortiferamente filha-da-mãe?
Que Deus, na Sua Infinita Misericórdia, como se costuma dizer, nos ajude sempre a encontrá-la, porque fazer dela um míssil a seguir, isso já é connosco.
Com a nossa moral.
Com a nossa humanidade.
Se as tivermos, claro.

Adivinha

Alguém conhece este sinal gráfico?
Imagine que ia por uma estradinha de montanha e o encontrava.
O que dizia à sua companheira e o que responderia ela (ou os vice-versas todos, escusado será de acrescentar)?
Hipótese um:
Ele: Tudo bem, já chegámos à Turquia.
Ela: Turquia, querido? Afinal já não vamos a Condeixa-a-Nova ao baptizado do teu sobrinho?
Hipótese dois:
Ela: Se calhar não devíamos ter bebido aquela segunda garrafa de Labrujeira reserva de 82.
Ele: Eh-eh! Candeia que vai adiante alumia duas vezes!
Hipótese três:
Ele: Deve ser um novo sinal, tipo curva e contra curva mais perigos vários...
Ela: Ou um aterro sanitário para os resíduos perigosos...
Hipótese quatro:
Ambos: Só neste país!
Hipótese cinco:
Ela: ... ... ...
Ele: ... ... ...
(Outra qualquer, a cargo da sua imaginação.)

terça-feira, maio 26, 2009

Vêm em bando com pés de veludo...

Sempre andaram por aí, desde o Senhor D. João III, creio, ou mesmo antes. Tiveram muitos nomes: sob o principado de El-Rei Junot, por exemplo, chamaram-se «moscas». Mas foram sempre iguais a si mesmos: invejosos, mesquinhos, de vistas curtas.
Cobardes na maior parte das vezes, mas valentíssimos quando apoiados uns nos outros.
Pareciam extintos como o Dódó ou o Lince da Malcata ou mais ainda, porque o Lince e o Dódó deixaram saudades e deles ninguém se queria lembrar.
Mas não. São como a Phenix que renasce das próprias cinzas, como a Hidra que tem sempre mais e mais cabeças.
Não adivinham de quem é que estou a falar?
Eu dou uma pista: a direcção regional de educação do norte. Ainda não?
Vá lá, pronto, eu dou outra: uma escola em Espinho.
Sabem de certeza: está aí mesmo ao vosso lado.
Mais pistas?
Para quê?
Se ainda não perceberam, não se ralem.
Quando vos cair em cima, logo guincham.

domingo, maio 24, 2009

Rèves de um João Bénard solitaire


Aviso desde já: o que vou dizer, em calhando, é um monte de disparates.
Mas tenho de os dizer à mesma porque sou um leitor do João Bénard da Costa e ele parou de escrever.
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Sabem daquelas pessoas com quem nós embirramos sem motivo? Não as conhecemos de lado algum, devemos ter-nos cruzado inúmeras vezes pelos lugares comuns da nossa cidade, mas nós não demos por isso e elas, certamente e com muito mais motivos, também não.
Quero crer que se trata apenas do meu mau feitio: detesto, mesmo sem as conhecer, as eminências pardas.
Eu explico: uma eminência parda é uma figura florentina: esgrime com a palavra - que domina bem melhor do que o comum dos mortais - leu mais do que aquilo que compreende, mas usa as citações como o polvo usa a tinta.
À falta do poder, mas suspirando por ele, tem uma paixão.
É poeta.
Ou historiador; sabe tudo sobre o século XIX.
Ou literato: Dante não tem segredos para ele.
E é perito em antiguidades: em casa da Avó Matilde havia sempre «uma consola muito parecida, mas tinha o brazão dos Albuquerques aqui...»
O seu modo de vestir oscila entre a gravata de seda natural e o colarinho aberto. «Vejam como eu estou à vontade em todo o lado», parece dizer.
Mas nunca veste uma camisa de menos de cem e tantos euros.
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O João Bénard da Costa tinha quase tudo para entrar nesta categoria.
E, ainda por cima, tinha dois defeitos:
um: era católico e eu não sou.
dois: era um apaixonado por cinema e eu, nos últimos dez anos, devo ter ido ao cinema umas cinco vezes, mas, por mais que me esforce, só me lembro de dois dos filmes: um era do João César Monteiro, Vai e vem, e outro era Le fabuleux destin d'Amélie Poulain de Jean Pierre Jeunet.
O João Bénard da Costa, esse lembrava-se de tudo. Filme visto aos onze anos, aí estava ele com os detalhes mais íntimos de um verdadeiro voyeur: o tornozelo de Cid Charrisse, a golinha de renda sobre o vestido de luto de Gene Tierney no papel de Mrs. Muir.
Mas, por estranho que seja, pelo menos para mim mesmo, nunca o incluí na categoria dos pedantes, bêtes noires da cultura, fiscais de bem-pensanço.
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O que, para lá das muitas reservas, me fazia ler-lhe os textos - ultimamente no Público - sempre que me vinham parar à mão, não o sei precisar.
Mas há coisas que se tornam evidentes, mesmo a uma primeira leitura.
Uma era o claro bom gosto da sua escrita.
A Cid Charrisse era linda. Não do mesmo modo que a Gene Tierney, mas mesmo assim. E os filmes, no seus tempos de ecrã, eram púdicos. Mostrar, por exemplo, a Esther Williams em fato de banho era já uma ousadia, só permitida a pretexto das cenas de natação. Mas, fiel ao bom gosto, Bénard da Costa evitava falar de coisas como as generosas coxas a ver-se: em todo o caso, o tornozelo da Cid Charisse era igualmente bonito e muito menos banal.
O que lhe importava era aquele pormenor em que só ele reparara, que parecia estar ali unicamente para lhe procurasse um sentido: os seus textos eram os rèves de um promeneur solitaire. Dessa réverie nos ia dando conta semanalmente partindo de um filme, de uma memória, de um acaso.
Os filmes, quando lia as suas crónicas, pouco me interessavam: não os tinha visto, não tencionava vê-los. Para mim, só o passeio do sonhador era importante.
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João Bénard da Costa, julgo eu, pertencia àquela rara minoria dos sonhadores práticos - que não perdem de vista os objectivos mesmo quando deixam à solta a imaginação e a memória - mas não são a mesma coisa? Ver filmes, recordá-los, restaurá-los, preservá-los para voltar a vê-los, era, ao mesmo tempo, o seu sonho e a sua tarefa.
As imagens que desse sonho lhe iam ficando eram-lhe pretextos no sentido mais elementar e etimológico do termo: eram pontos de partida, prévios ao texto, desencadeadores de uma escrita em que tudo comunicava com tudo, à semelhança do próprio mundo em que ele vivia. Uma cinematéca não é o ponto onde as culturas, as mundividências, as utopias se cruzam, se interpenetram, se recombinam?
Estou em crer que a sua religiosidade tinha essa componente, sincrética talvez, e profundamente mágica em que o alto e o baixo, sagrado e profano, simples e complexo, se comunicam e se fundem no mundo das palavras: nos seus textos a Universidade de Oxford podia ser (e foi) o ponto de contacto entre Fritz Lang com o seu monóculo e um pintor como Ingres. E muitos e muitos outros exemplos podiam surgir-nos: ando a reler as suas crónicas aqui e não me lembrava de ter falhado tantas.
A minha memória não é como a dele.
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Comecei por avisar de que ia dizer disparates e, se calhar disse.
Mas eu, que querem? Estou de luto e não quero saber disso para nada. E o João Bénard da Costa era bem capaz de soltar uma das suas gargalhadas graves e um tanto roucas: para ele, o direito ao disparate era inalienável.
Pelo menos, até se lhe esgotar a paciência, o que, para ele, como direito seu, não era menos inalienável do que qualquer outro.
E agora vou deitar umas pedras de gelo no meu whisky e bebê-lo à memória dele.
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sexta-feira, maio 22, 2009

quinta-feira, maio 21, 2009

Lusopitecus Quèobrensis Astutus

Com a devida vénia à Hainnish que colaborou activamente na descoberta destas e de muitas outras espécies de quèobrensis.

domingo, maio 17, 2009

Nós Górdios



As mulheres, quando não são simplesmente a metade fêmea do lusopitecus quèobrensis graniticus ou de qualquer outro piteco afim, são um espanto.
Primeiro, pura e simplesmente por existirem.
Depois por serem bonitas.
Enquanto nós, homens, somos uns estafermos peludos e mal-encarados, elas têm encanto e, por vezes, até conseguem ter classe.
Nós bem podemos vestir casacos de tweed com cotoveleiras, fumar ostensivamente os nossos cachimbos: ao pé de uma Carla Bruni, por exemplo, qualquer um faz figura de Sarkozi senão de Cavaco Silva ou Berlusconi.
Têm elas, além disso, uma característica perturbadora.
Mesmo quando se divertem e riem, a vida é, para elas, uma coisa extremamente séria.
Só para dar um exemplo:
Há um senhor(1) que se dedica a fazer jogos e quebra-cabeças que, depois leva às feiras de artesanato.
Alguns são tão clássicos como o peg solitaire que, reza a lenda, foi inventado por um prisioneiro na Bastilha e terá levado ele próprio muitos anos a resolvê-lo.
Outros são versões simples ou elaboradas do jogo do galo ou do Mariembaad. Mas o referido senhor não se limita a construí-los: também os inventa.
É da sua autoria o quebra-cabeças que a senhora do desenho ali em cima estava a tentar resolver.
Claro que eu não assisti à cena. Foi-me relatada já em segunda ou mesmo terceira mão, portanto a senhora que eu desenhei não tem nada a ver com a protagonista da história.
Mas vamos aos factos.
Como muitas e desvairadas gentes quando passam pelo stand, a senhora pegou num e noutro dos jogos, pediu explicações, agarrou num quebra-cabeças (Pythagoras de seu nome) e foi desafiada pelo artesão a resolvê-lo.
Tratava-se de soltar um anel enfiado num cordão e que, de um lado está preso por uma complicada estrutura de madeira; do outro, o cordão passa pelo interior de uma bola de madeira também, cujo diâmetro maior impede a passagem do anel. Um nó simples prende a bola.
Trata-se, portanto, de retirar o anel sem, condição absoluta, o desatar.
Quando o Alexandre Magno se deparou com o célebre nó Górdio, a sua atitude não deve ter sido muito diferente do daquela cliente. Deve ter mirado e remirado de todos os lados, coçado a cabeça e tomado a sua decisão. Alçou a espada e, zás.
A cliente não foi tão expedita, ou porque lhe tivesse faltado a tesoura ou porque não quis estragar o jogo. Mas aferrou-se a ele com uma decisão firme, dedos fortes a empurrar a argola contra a esfera, «não hás-de ser mais teimosa do que eu», e crac: a argola cedeu na soldadura, e, um tanto amolgada, soltou-se do cordão.
A senhora abriu um largo sorriso e apresentou ao feirante o enigma resolvido.
Não há nada a dizer, pois não?
Quando um jogo, como o futebol, por exemplo, é encarado a sério e é assumido como de vida ou de morte, fazer faltas, mesmo as mais violentas, considera-se, enfim... aceitável.
Como censurar, então a senhora, pela dedicação ao prob O nome lema e pela solução encontrada?
E ficamos com um problema:
Se aceitamos, com Gregory Bateson, nos Metadiálogos, que, quando não nos sentimos tentados a fazer batota, a contornar as regras, então é porque não estamos a encarar o jogo a sério, a conclusão é a de que a democracia nunca pode passar de uma brincadeira, um jogo que se joga quando as coisas não são importantes.
Claro que as mulheres, desde sempre nos deram exemplos de que nem tudo pode ser submetido a consensos e, muito menos, a votações. A vida dos filhos, por exemplo.
Mas, para que isto não seja um simples argumento a favor da força, onde está a falácia?
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1) O seu nome e a profissão, bem como outras referências pessoais, foram retiradas deste texto a pedido do interessado.

sexta-feira, maio 15, 2009

Sem título

Mais saudades

quinta-feira, maio 14, 2009

Sem título

Hoje, excepcionalmente, decidi ter saudades de mim mesmo.

domingo, maio 10, 2009

Guarda isso para Agosto!

Praia de Santa Cruz
1935
1.
Lá em casa, quando eu era miúdo, usava-se imensas vezes uma frase enigmática que quase sempre fazia rir os graúdos.
A frase em si não tinha graça nenhuma:
- Olha, deixa isso para Agosto! - dizia-se.
2.
Advirto desde já: este post, mesmo se não parece, é sobre uma jovem Senhora, de seu nome Joana Alegria (e que nome bonito o seu!), que teve a péssima ideia de ter o seu bebé fora da época.
Repito: fora da época.
Com isso perdeu o concurso em que era candidata, não a deixaram frequentar um curso de formação e, pronto, está desempregada.
- Mas quem, Deus do Céu? - perguntais. - Não há responsáveis por uma coisa dessas?
Responsáveis? Não, claro. Foi o Ministério da Justiça...!
Lá em casa, a minha Mãe teria perguntado com aquela ironia que serve sempre de disfarce às tristezas, às frustrações:
- Olha, Filha, porque é que não guardaste isso para Agosto? - e, claro, ninguém teria rido.
3.
Não é caso inédito: sei lá quantas carreiras promissoras foram já destruídas porque as jovens, hélas!, se me permitem o eufemismo, seguiram a natureza. É que, como ela não é de muita confiança, os bebés acontecem. E como o aborto nem sempre é solução - e nunca é para certos sectores ou para certas sensibilidades - os homens (e as outras mulheres, ora pois) vingam-se:
- Andaste a divertir-te, não foi? Agora amolas-te.
E pronto, a aluna perde o mestrado, a professora não muda de escalão, uma outra jovem não consegue passar na entrevista para o emprego por causa de um certo epessamento na cintura...
Um dia alguém terá de pensar a sério esta recusa perante a sexualidade alheia, sobretudo se são jovens.
Direito a uma sexualidade sã? Educação sexual nas escolas? Nem pensar!
Proteger a maternidade? Bom, dá-se aí mais uns dias para amamentar...
Aborto? Pá, teve de ser, à segunda, já não conserguimos... mas só até às dez semanas, hem? E pílula do dia seguinte, só com receita médica... ah, não?
4.
Mas, pronto. Se me permitem, deixemos a Joana Alegria por uns intantes e vamos à história do «guardar para Agosto».
Aí pelos anos vinte e tal, trinta, do século passado, a praia que a minha família frequentava tinha sido muito melhorada e embelezada.
Como noutras praias da nossa costa, a areia ficava lá muito em baixo, ao fundo de arribas quase a a pique. Os melhoramentos consistiram, então, em escadarias de cimento, umas mais larguinhas, outras estreitas e compridas com degraus altos a causar vertigens, interrompidas, de tantos em tantos degraus, por acanhados patamares.
Ali, pensara decerto um arquitecto, podiam as pessoas mais idosas descansar da subida sentadas em bancos, de cimento também. Os mais novos, esses aproveitavam para tirar a areia dos dedos dos pés e calçar os sapatos.
Toda a subida era ainda acautelada por uma espécie de corrimão feito de retorcidas pedras soldadas umas às outras com o inevitável cimento, reforçado interiormente com ferro. Aqui e ali, um pedaço de azulejo ou um caquinho de barro davam a nota alegre do descuido dos pedreiros: era o embelezamento.
5.
Não sei se há memórias descritivas dessas obras.
Suponho que tentavam imitar um qualquer «natural» imaginário melhorando consideravelmente a própria natureza: encontramos tentativas dessas um pouco por todo o lado, por exemplo, em «grutas» onde cresciam avencas e uma bica deixava escorrer um fio de água.
As câmaras municipais odeiam-nas. Substituem as bicas por torneiras pinguentas, a escorrer uma baba verde na ponta de um cano. Aquando das requalificações urbanas, destroiem-nas sem dó nem piedade.
O lago do Jardim da Parada, em Lisboa (coração do bairro de Campo de Ourique, com abundantes cafés e a Livraria Ler, se não sabiam) foi vítima de igual sanha destruidora.
Já não está na moda imitar seja o que for: os arquitectos descobriram a palavra «pastiche», lançaram sobre ela o mais absoluto dos anátemas e zás! Sentiram-se desobrigados de ter um gosto qualquer, nem que fosse mau e desataram todos a desenhar as mesmas coisas.
Não sei se imitar nem que fosse o Raul Lino não seria bastante melhor, mas os pato-bravos, claro, agradeceram.
Tenho a ideia de que restam ainda uns quantos desses românticos arranjos, por exemplo, no Jardim da Estrela, mas já não acredito muito.
Mas, adiante, não façamos esperar demasiado a Joana Alegria (que, repita-se, tem um nome bem bonito).
6.
Uma das escadarias da nossa praia, então, terminava cá em baixo, já quase na areia, alargando-se, dividindo-se em dois lances mais espaçosos, um para o lado norte, outro para sul. No vão desses lances ficava o «estaminé» que vendia baldes e pás de folha, forminhas para fazer bolos de areia, bolas coloridas, ringues para jogar ao «mata», pregos de vidro translúcido para jogar ao prego.
E, supremo melhoramento: passou a haver casas de banho, uma para as senhoras e, do outro lado, a dos homens.
7.
E estamos a chegar ao que importa:
Passados anos, já estas melhorias tinham perdido a novidade, o inevitável aconteceu: prováveis cortes de verba, alguma indiferença, sabe-se lá, o «estaminé» e as casas de banho só abriam a partir de Agosto e até meados de Setembro, o que, imagina-se, causava a indignação dos veraneantes que tinham casas à época e começavam a fazer praia logo a seguir aos Santos.
Ora acontece que, um dia, estando nós (ou os nossos irmãos mais velhos, não faço ideia) já brincar na areia, as nossas mães, naturalmente queixavam-se, «pois, só os veraneantes que vinham de Lisboa, os que tinham férias em Agosto é que eram importantes. Os outros, minhas amigas, não eram ninguém...» e por aí fora.
Estavam nesta amena cavaqueira, quando um dos miúdos, numa urgência anunciada pelo ar aflitamente encolhido, veio reclamar:
- Mãe. Quero cócó.
A Mãe, de imediato, retorquiu-lhe:
- Ó rapaz, deixa isso para Agosto.
8.
A frase ficou.
Dizem que já não há amanhãs que cantam, mas, disso, não sei nada. O que sei é que, pelo menos, a esperança de Agostos com os «estaminés» abertos, de um arzinho de férias, ao menos uma vez por ano, isso ninguém me consegue tirar.
A Joana Alegria, que, creio já ter dito, tem um nome lindo, só restava ter esperado pelo mês certo.
É que, como diz o Mário de Carvalho, este povo não tem emenda.

sexta-feira, maio 08, 2009

Subsídios para o Livro de Aka (XVII)

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- Um problema sanitário é um problema sanitário, disse a Aia.
- Temos de sair do hotel.
Aka achou engraçado estarem a ser expulsas por uma tautologia:
- Problemas sanitários duas vezes?
- A desratização, Aka. Já te expliquei, não foram duas vezes.
Foram mais de cem.
Aka não retorquiu.
A graça da coisa era que uma desratização num hotel fosse sempre precedida por uma desumanização.
- Se eu fosse rato, quando visse os humanos a abandonar o navio, deitava-me logo à água.
- Deixa de ser ridícula, Aka. Tu não és um rato.
- Graças a Deus.
Mas não tinha muito a certeza.
Talvez devesse ter-se feito pequenina e seguido o primeiro coelho branco que passasse.
Ainda estaria a tempo?
-

quinta-feira, maio 07, 2009

Sem título

- Pinho, pá! Já comi a Maizena e já lhe cheguei aos calcanhares.
E agora, que é queres que eu faça mais?