quinta-feira, março 31, 2011

II centenário de Kleist


Pensar, reflectir

- o que lhe queiramos chamar quando,

partindo de imagens e esquemas,

perseguimos os conceitos -

é um hábito que tem tanto de absolutamente necessário

como de pernicioso.

(Eu, em dia não)

-

Transcrevo, com a vossa licença, de um caderno já muito antigo:


"Ouvido durante a conferência do [Professor Doutor] Carmo Ferreira no D. João de Castro:

1810 (1) - o sucídio de Kleist. Motivo: Não há verdades absolutas, só há verdades condicionadas à nossa intuição sensível.

A Metafísica como uma amante arisca para Kant.


A paixão move-nos para ela, não podemos viver sem a Metafísica e, no entanto, ela não nos gratifica, comporta-se como uma ingrata. A Metafísica é a ciência dos limites da Razão e, ao apaixonarmo-nos por ela, apaixonamo-nos pela fronteira do não-mais-além.


A Razão kanteana é, assim, sentimento.

Sente a carência de totalidade, capta a insuficiência, o interesse move-a, é a razão da razão que, no entanto, como uma outra traição, apenas se interessa por si própria. O interesse (ou a paixão, ou o sentimento) e, no entanto, o único acesso para o outro, para a alteridade. A razão reduz o outro a objecto submisso às condições a priori, ao espaço, ao tempo, às categorias, ao mundo, irremediavelmente aquilo fenoménico, númeno inatingível. O interesse, no entanto, instância última e fundamento, lugar do não-recuo, sentimento prático, leva-nos ao outro, indivíduo, identidade, gozo enquanto conhecimento e acção.

E a Metafísica? É a decepção, tripla decepção porque nada nos diz e nos reenvia à fé, porque a lei moral não é eficaz por si mesma e, enfim, porque o máximo que a Metafísica nos diz é que tudo se passa como se...

De onde a morte decepcionada de Kleist.

-

Que devemos então esperar?

A resposta é tautológica: devemos esperar a esperança, que é agir, arriscar.

A recompensa para isto é parca, respondeu Kleist. Para Kant, a recompensa, a plenitude, vem do Belo. E Belo, verdadeiramente Belo, é o rosto do outro quando age livremente."




(1) De facto em 1811. Erro meu, decerto, ao tomar os apontamentos.

sexta-feira, março 25, 2011

Um quê?

Pois. É um caucus, ao que dizem. Ainda não sabemos muito, só o que vamos lendo.

Por exemplo, aqui.

terça-feira, março 22, 2011

O Burro de Buridan ou Os preços dos combustíveis!


Vocês conhecem esses mails tremendistas que circulam na net, uns a dizer mal do Governo, outros com vistas de Paraty?
As vistas de Paraty é como o outro.
Pronto, a gente apaga logo se está com muita pressa. Se não, até passa uns minutos entretido - sem pensar que foi um tempo gasto sem grande proveito.
A dizer mal do Governo ou «desta choldra», isso já pode merecer uma atenção mais cuidada.
Hoje, por exeplo, recebi dois que me mereceram uns momentos de reflexão, não sei se inteiramente pela positiva...
-
Um deles era sobre a candidatura à carreira judicial de um réu no processo da Casa Pia de Lisboa.
Os crimes por que estes réus todos estão a responder é particularmente repugnante, talvez porque tudo o que envolve maus tratos às crianças incomoda particularmente quem é mãe ou pai, avó ou avô.
Eu próprio devo dizer aqui já: detesto pedófilos.
Mas reconheço: é um defeito meu porque sei que se trata de uma patologia de dificílimo contrôlo, tanto pelo próprio doente como pela sociedade. Que fazer com um pedófilo? Condená-lo à morte? Nunca, claro. Recuso uma sociedade que se arroga o direito de matar, seja em que caso for, não que o criminoso não o merecesse eventualmente: mas nós, cidadãos vulgares, ou eu, pelo menos, recusamo-nos a matar de volta.
À prisão perpétua?
Castrá-los quimicamente?
Há dados que permitam fazer a avaliação das consequências de cada uma destas opções? Duvido muito.
Dito isto, o que me espantou no dito mail foi o tom exaltado com que se condenava o Centro de Estudos Judiciais ou o que fosse, por admitir um desses réus no curso de formação para a carreira judicial.
Note-se, e o próprio mail o dizia, o dito réu, por ter um doutoramento reconhecido pelo estado português, tinha acesso automático ao dito curso de formação sem passar pelas provas de admissão que, de costume, são bem severas.
Que desejava o autor do mail que se fizesse?
Que se impedisse um cidadão que tem a sua candidatura de acordo com a exigências legais de ser admitido? Com base em quê?
A pedofilia - uma condenação moral fortíssima, concordo - não está ainda, de modo algum, estabelecida. Não há ainda, tanto quanto julgo, uma sentença definitiva. Até ao momento da condenação, com trânsito em julgado - ou coisa que se lhe assemelhe em linguagem de advogado - até à altura em que, já sem possibilidade de recurso, ou não o tendo exercido, o réu é declarado culpado, ele é um cidadão como outro qualquer, um presumível inocente.
E com que direito o Centro de Estudos Judiciários eliminaria um cidadão inocente dos seus concursos? Nenhum, não é?
Ou então, prescindiremos do Direito.
Provavelmente, o autor do exaltado mail é como o burro de Buridan: está indeciso.
Por um lado, a sua exaltada moral.
Por outro, o seu desejo de viver numa sociedade que não permita que ele próprio, um dia destes, seja condenado seja a que for com base em simples suspeitas ou até mesmo sem elas.
Ou não será assim?
-
O outro mail era igualmente interessante.
Todos nós estamos fartos de refilar por causa do preço dos combustíveis. E, quando o dito mail nos chama a atenção para os preços do gasóleo, por exemplo, no Egipto (14 cêntimos) ou na Arábia Saudita (7 cêntimos), sinceramente, eu fico impressionado.
Mas, logo reparo que, por exemplo, que no Brasil, segundo o mesmo mail, o mesmo gasóleo já custa 54 cêntimos e que na China, outro país dito emergente, a gasolina anda pelos 45, mais ou menos a par com os Estados Unidos.
Reparo também que não são os países mais famosos pelos seus mecanismos de protecção social, quem tem os preços mais baratos: veja-se a Swazilandia, por exemplo, onde se vende a super a 10 cêntimos, ou a própria Líbia onde, antes destas revoltas, supõe-se, o diesel custava 8 cêntimos: tudo informações do próprio mail, é claro.
Por cá, há algumas diferenças a considerar.
A Europa do pós guerra de 1939-45 apostou fortemente nas reformas dos trabalhadores, nos hospitais, na assistência na doença e no desemprego.
Foi uma opção que nós, portugueses, não só imitámos a partir do 25 de Abril, como temos validado em todas as eleições, desde que o pudémos fazer.
E a manifestação do dia 12 deste mês, lembram-se?
Mais coisa, menos coisa, foram 300.000 pessoas na rua, em apoio dessa opção.
Fica-nos a dúvida: que queriam provar os autores do dito mail?
Que preferiam eles?
O gasóleo ao preço da uva mijona e os nossos velhos a morrerem ao abandono? As nossas crianças sem escola? Os doentes à porta de um hospital que os não recebe porque não têm dinheiro?
Duvido.
São, também eles, como o burro do Buridan. Entre duas coisas igualmente boas, também não conseguem escolher.
Ou conseguem e, afinal, não passa de mais um ataquezinho sôfrego ao Estado Social?

terça-feira, março 15, 2011

E Almaraz aqui tão perto!

- Começo a perceber porque é que eles diziam que small is beautiful...



sexta-feira, março 11, 2011

Pois, tem razão...

O Portugal, caramba! compreende que nem toda a gente tem vontade de ir amanhã à manif, mas que não deixa de sentir um certo peso na consciência por causa disso.
Como não quer ver ninguém sofrer, decidiu oferecer aqui, de borla e sem necessitar de citar a fonte, quatro desculpas já prontas a usar.
Que as aproveitem e que gozem o seu sábado com saúde é o que o nosso blog lhes deseja.

quinta-feira, março 10, 2011

terça-feira, março 08, 2011

Dias internacionais...

- Como?


- Dia Internacional de quê?


- Meu. Nosso.
Só desejo às mais jovens que não percam nada do que a minha geração conquistou.
E que obtenham mais qualquer coisa, pelo menos.
A alegria, por exemplo...

quarta-feira, março 02, 2011

Kadaffi


Não tenho qualquer simpatia pelo Kadafi, confesso. Mas confirma-se: «quando o cão é danado, todos lhe atiram pedras».