segunda-feira, janeiro 29, 2007

Sevilha, 1911

Foi na feira de Sevilha de 1911 que eu e o meu compadre João Perestrelo [... ] apresentámo-nos a todos como sendo toureiros. Ao declinar o nosso nome é que foram elas, num cais a desoras.
[...] Dizia um: «A que si», respondia o outro: «A que nó», e mano João larga-lhe um estalo à portuguesa e depois... nunca vi tanto geito de sermos cosidos à facada. Dalí fomos ao «Puesto Fernando» onde se faziam encierros e fizemos lá tantos estragos e só de louça partida foram oitenta duros...
Arnaldo Futscher Reys e Souza, Ergue a campa Vimioso

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Deserdados

«Se escrever alguma coisa sobre Açoreira não se esqueça cá do rapaz...»
Mas não têm tempo de dizer mais nada. A desordem rebentou numa mesa do outro lado da sala, com copos e garrafas partidos de mistura com exclamações que afundam a música.
William encaminha-se para a mesa, calmamente, bamboleando as ancas, mas levanta-se um dos latagões que a ocupam para o enfrentar na atitude de desafio de quem vai pegar um toiro. São membros de um grupo de forcados de qualquer terra alentejana, todos de físico desenvolvido, ao contrário da maioria dos presentes, expressões hostis e trocistas. Em todos os actos da sua vida usam a mesma atitude que exibem na arena: desplante e coragem inútil. Para eles, William, pálido e esguio, o rosto mais franzino pela cabeleira enorme, assemelha-se a um fraco novilho que uma simples palmada entre a cornadura derrubará facilmente.
«Os senhorres... é favorr abandonar a sala...»
O que lhe faz frente e parece ser o cabo do grupo, avança de mão aberta e gargalhada escarninha:
«Seu maricas! Vou já tirar-lhe essa camisa cor de laranja!»
Os pares imobilizaram-se, algumas raparigas soltam gritinhos, de medo ou de espanto, e só a voz do disco continua a dominar o ambiente, desvanecendo a violência da cena ou tornando-a ridícula:
Si jávais Brigitte Bardot
Ah! si jávais Brigitte Bardot...
Não se movendo quase, William evita o punho fechado do forcado e projecta-lhe um murro em pleno queixo. O outro sofre a surpresa, mas não se arreda um milímetro sequer do local em que está, e nesse instante, como a um sinal do cabo, os restantes, que já varreram para o chão quantos copos e garrafas havia em cima da mesa, ergueram-se e secundaram o chefe ultrajado.
[...] O guarda pretende entrar no grupo, tornar-se simpático, pressentindo que deve tanta consideração àqueles homens de autoridade e força, por certo de bom nascimento, como ao próprio dono da boite a quem se obrigam a defender.
[...] «Deviam fechar isto, senhor guarda, este coio de maricas. Olhe-me para estes tipos todos e diga-me lá se distingue os machos das fêmeas... Mas nós pagamos, pagamos tudo, descanse...»
Perante a cena, os demais frequentadores do Welcome, William, Camacho, as inglesas de menos de vinte anos, os moços atrevidos mas agora silenciosos, o próprio José Álvaro, ficaram estranhamente deslocados e insignificantes.
Mário Ventura, O Despojo dos Insensatos

domingo, janeiro 21, 2007

Et revoilá...

Toi, t'etais pas mal, ce temps-lá.
Tu t'aimais un tout petit peu de trop,
peutêtre.
Mais voilá.
Je t'aimais surtout
quand t'avais tes coups de pompe.
C'est encore quand je t'aime le plus.
Mêmme.
Si.
Je te vois plus, depuis des eternités.

Três tristes Taccis ao quadrado

Graças ao "Pequenos nadas" da Gi (que pode ser clicado aqui mesmo, do lado direito) e, através dele ao blog da Wind (http://wind9.blogspot.com/) passei uns momentos bem divertidos enquanto ia ouvindo o Whalerider, da Lisa Gerrard.
Hei-de aprender a mostrar a música que, uma vez por outra, consigo ouvir.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

terça-feira, janeiro 16, 2007

Vimioso, Caramba!

Como se chamava o pequeno cinema à ilharga do edifício do Éden, no rés-do-chão?
O homem que ali vendia gravatas, andando para trás e para diante no passeio, com as gravatas dependuradas de uma barra sobre o peito, a barra sustentada por uma correia que lhe passava por detrás do pescoço. E uns conhecidos rapazes de boas famílias, irmãos e desordeiros, metidos em lides tauromáquicas e automobilísticas, que se divertiam a fingir que escolhiam uma gravata, tirando uma após outra do expositor e lançando-as sucessivamente no chão. No chão onde certo dia um daqueles valentões andou de gatas, a apanhar as gravatas, com uma pistola apontada à cabeça pelo vendedor ambulante.
Sérgio de Sousa, Errar

quarta-feira, janeiro 10, 2007

O Rudolfo fez plaff no asfalto como um sapo despejado de sétimo andar

No grupo havia um indivíduo extra-bisonho, Zé de nome e Rudolfo por alcunha. Fumava sem parar, além do que rosnava, comentários imprecisos. Uma vez por mês tinha um ataque de fúria animal e espatifava quanto houvesse a espatifar - antes que alguém metesse ali ponto final, no queixo ou em qualquer outro interruptor dessas correntes. A presença dele onde quer que fosse parecia provir da responsabilidade do Gaspar, exclusiva. Um dia perguntei: «Porquê o Rudolfo?» «Bem», disse o Gaspar. «Eu nunca faria o gajo, mas está vivo, não? Então? Tem de circular.»
Nuno Bragança, A noite e o riso

terça-feira, janeiro 09, 2007

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Finalmente, Caramba! A banda de Bucelas!

Entrou! Milagres da electrónica! Ou, quem sabe, as penas do Inferno. Seja como for, entrou. Obrigado, Bill Gates.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Por motivos alheios à nossa vontade...

O blogger, por uma daquelas muitas e misteriosas razões só da electrónica, não me deixa inserir um boneco com a banda de Bucelas que devia, pensava eu, acompanhar o texto do Nuno Bragança. O blogger é de opinião contrária. provavelmente tem mais bom-gosto (já sei, já sei!) do que eu. Em sua substituição, aqui fica o «japona retocado 2».

terça-feira, janeiro 02, 2007

Os Vimioso e a Banda de Bucelas

Quando nas suas iras, o Rudolfo gostava imenso de bater. Arrumar um adversário despachável à primeira, nem pensar. Organizava as lutas de molde a chegar à última trancada nuns vagares, gourmet de sexo a retardar o orgasmo. Escolhia as vítimas a dedo, sem as estudar antes de lhes saltar em cima. Tinha a pontaria de quem se movimenta em função do puro instinto.
O homem de Bucelas mostrava-se uma presa ideal. Porque tinha agilidade e força, e era corajoso.
[...] Durante um naco de tempo, o Rudolfo foi demolindo o outro, camponesa de bons dentes absorvendo um cacho de Ferral
Os bucelenses extra-banda, estarrecidos, não tinham receita apropriada. De cada lado dos contendores(1) , uma fila de tocadores de Banda desfilava, narizes no papel pautado.
Foi um saxofonista quem virou a página. Ao ver o sucedente, passou o instrumento ao companheiro de trás. Atravessando tudo e todos numa implacabilidade de furão em rasto certo, chegou-se ao Zé-Rudolfo e deu-lhe uma na nuca com o talhe da mão.
O Rudolfo fez plaff no asfalto, como um sapo despejado do sétimo andar. «Este é músico», disse o Simão, olhando o saxofonista atenciosamente, nuns carinhos. Após o que, chegou-se a ele e foi-lhe às ventas, com o sorriso duma Madre Superiora afagando noviça que promete.
A intervenção do [Simão] C. C.: copo de gasolina entornado em chama de caruma. Num já-está, a selecção de Bucelas e o meu grupo defrontaram-se num vale-tudo incluindo instrumentos musicais servindo de matracas. Para os polícias, que andavam pela orla dos passeios de cacetete em erecção constante, esta oportunidade de molhar a sopa em nova frente foi éclair de chocolate à mão de uma madame.
Nuno Bragança, A noite e o riso
(1)A minha edição (Moraes, 1971) regista «contentores», o que me parece claramente uma gralha. A não o ser, o Nuno Bragança terá de me perdoar: não me passou pela cabeça emendar-lhe a escrita, nem a ninguém, quanto mais a ele.

Alcaïns - 4

Esta Senhora, infelizmente já partiu.
Para uma vida melhor, de certeza, se existir uma seja onde for.
O Senhor Padre Novo também, mas esse cooptado pelo seu Bispo para cargos mais exigentes do que mandar fechar a Capela do Espírito Santo à meia noite.