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- Pai? Hoje perguntei à Luísa… Tu
sabes, Pai! A minha professora chama-se Luísa.
. Desculpa, querida, estava a pensar
noutra coisa. O que é que tu perguntaste à tua professora?
-
Perguntei porque é que as palavras são iguais.
- Iguais? Iguais como?
- Tu disseste que o reflexo é tipo
haver uma luz muito forte e a gente fechar os olhos sem pensar. Mas reflectir,
tu dizes sempre que é pensar duas vezes numa coisa que a gente não deve fazer.
E depois eu pensei que o que a gente vê no espelho também não é verdade, é só o
espelho a reflectir e é mentira, não é Pai?
- Sim, de certo modo… Mas, e depois?
Pensaste o quê?
- Depois
pensei no meu quarto, sabes? De manhã fica assim muito clarinho. E a Conceição
diz que é a luz do Sol a reflectir-se nas paredes. E eu lembrei-me daquilo que
tu disseste também, no outro dia, de ser claro é ser mais verdade, porque eu vi
tudo clara e distintamente. Mas as paredes não são menos verdade quando está
escuro, pois não, Pai?
- Não, claro que não. É como tu
dizes, a confusão vem de usarmos palavras iguais para coisas diferentes.
- Pai!
- Que foi agora?
- Tu disseste «claro que não». Como
é que uma coisa «não» pode ser clara? Não devia ser escura?