quarta-feira, abril 18, 2018

CATARINA E OS REFLEXOS

.
            - Pai? Hoje perguntei à Luísa… Tu sabes, Pai! A minha professora chama-se Luísa.
            . Desculpa, querida, estava a pensar noutra coisa. O que é que tu perguntaste à tua professora?
- Perguntei porque é que as palavras são iguais.
            - Iguais? Iguais como?
            - Tu disseste que o reflexo é tipo haver uma luz muito forte e a gente fechar os olhos sem pensar. Mas reflectir, tu dizes sempre que é pensar duas vezes numa coisa que a gente não deve fazer. E depois eu pensei que o que a gente vê no espelho também não é verdade, é só o espelho a reflectir e é mentira, não é Pai?
            - Sim, de certo modo… Mas, e depois? Pensaste o quê?
- Depois pensei no meu quarto, sabes? De manhã fica assim muito clarinho. E a Conceição diz que é a luz do Sol a reflectir-se nas paredes. E eu lembrei-me daquilo que tu disseste também, no outro dia, de ser claro é ser mais verdade, porque eu vi tudo clara e distintamente. Mas as paredes não são menos verdade quando está escuro, pois não, Pai?
            - Não, claro que não. É como tu dizes, a confusão vem de usarmos palavras iguais para coisas diferentes.
            - Pai!
            - Que foi agora?
            - Tu disseste «claro que não». Como é que uma coisa «não» pode ser clara? Não devia ser escura?