quarta-feira, junho 14, 2017

Santinhos (I)

Santo António de Pádua,
 o Doutor Evangélico, Primeiro Leitor de Teologia da ordem dos Franciscanos
e grande pregador contra a heresia de Albi. 
E o mesmo, mas de Lisboa, mais dado a quebrar as bilhas às raparigas
e a concertá-las depois casando as noivinhas. 
É claro, é o Santo a quem se deve rezar quando se quer recuperar uma coisa que se perdeu 
- reza-se para que o noivo seja honrado - ou que, sendo outro, não dê por nada.
A vida é feita destas pequenas artimanhas a que nem os Santos escapam.

 São Francisco Marto,
 trabalhador infantil como se usava 
naqueles tempos de extrema pobreza. 
Deram-lhe um cajado, uma navalhita, símbolos da masculinidade, 
disseram-lhe que já era um homem e vá, toca a fazer pela vida, que viver não é de graça. 
Os tempos aborrecidos, enquanto as ovelhas cuidavam das suas vidas sempre iguais, 
entretinham-se como se podia: a fazer brinquedos talhando figurinhas a canivete, em pedaços de pau, porque era o que faziam os gaiatos antes de lá chegar a escola e a mestra com a sua palmatória. E mesmo depois, porque faltar à escola para ajudar os pais, era o que se fazia, que remédio? 
Não sabemos nada dos seus talentos musicais,
mas, em calhando, fazia nu-nús de cana,
mesmo pequenas flautas de sons doces - e desafinados. 

Santa Jacinta
Era uma menina de sete anos aquando das aparições. 
Só depois foi à escola.
Até então ia com o rebanho até ao pasto, mais uma cabritinha à guarda do irmão Francisco e da prima Lúcia, que menina já de sete anos não fica em casa sem fazer nada.
Se calhar, entretinha os dias longos a jogar às cinco pedrinhas que era jogo de meninas, 
com a Prima Lúcia, ou talvez sozinha.
Tem-se o que se pode. Sonha-se com o resto.

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