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quinta-feira, maio 28, 2009

Ironia


"A forma natural da ironia é a litote - quer dizer que a ironia, como todo o pensamento senhor de si próprio, opera a fortiori. O que pode o mais, «por maioria de razão» pode o menos. A litote deflaccionista é o oposto diametral da ênfase, que é inflação e grandiloquência vã, e que não produz senão vento. Aristóteles considera a eironeia como a «carência» de uma virtude cujo «excesso» se chamasse alazoneia ou fanfarronice ..."

Vladimir Jankélévitch, L'ironie, Flammarion, 1964


Às vezes penso.
Vivemos num mundo de sabichões, de preferência televisivos.
Vocês conhecem-nos: têm o ar de «a-gente-é-que-sabe e vocês são umas bestas»; escondem-se por trás das suas organizações - económicas ou religiosas umas, politicas outras, financeiras todas - como as lesmas e os insectos se escondem da luz debaixo das pedras.
Que verdade nos resta senão a pergunta mais homeless, mais ignorante, mais mortiferamente filha-da-mãe?
Que Deus, na Sua Infinita Misericórdia, como se costuma dizer, nos ajude sempre a encontrá-la, porque fazer dela um míssil a seguir, isso já é connosco.
Com a nossa moral.
Com a nossa humanidade.
Se as tivermos, claro.

domingo, maio 17, 2009

Nós Górdios



As mulheres, quando não são simplesmente a metade fêmea do lusopitecus quèobrensis graniticus ou de qualquer outro piteco afim, são um espanto.
Primeiro, pura e simplesmente por existirem.
Depois por serem bonitas.
Enquanto nós, homens, somos uns estafermos peludos e mal-encarados, elas têm encanto e, por vezes, até conseguem ter classe.
Nós bem podemos vestir casacos de tweed com cotoveleiras, fumar ostensivamente os nossos cachimbos: ao pé de uma Carla Bruni, por exemplo, qualquer um faz figura de Sarkozi senão de Cavaco Silva ou Berlusconi.
Têm elas, além disso, uma característica perturbadora.
Mesmo quando se divertem e riem, a vida é, para elas, uma coisa extremamente séria.
Só para dar um exemplo:
Há um senhor(1) que se dedica a fazer jogos e quebra-cabeças que, depois leva às feiras de artesanato.
Alguns são tão clássicos como o peg solitaire que, reza a lenda, foi inventado por um prisioneiro na Bastilha e terá levado ele próprio muitos anos a resolvê-lo.
Outros são versões simples ou elaboradas do jogo do galo ou do Mariembaad. Mas o referido senhor não se limita a construí-los: também os inventa.
É da sua autoria o quebra-cabeças que a senhora do desenho ali em cima estava a tentar resolver.
Claro que eu não assisti à cena. Foi-me relatada já em segunda ou mesmo terceira mão, portanto a senhora que eu desenhei não tem nada a ver com a protagonista da história.
Mas vamos aos factos.
Como muitas e desvairadas gentes quando passam pelo stand, a senhora pegou num e noutro dos jogos, pediu explicações, agarrou num quebra-cabeças (Pythagoras de seu nome) e foi desafiada pelo artesão a resolvê-lo.
Tratava-se de soltar um anel enfiado num cordão e que, de um lado está preso por uma complicada estrutura de madeira; do outro, o cordão passa pelo interior de uma bola de madeira também, cujo diâmetro maior impede a passagem do anel. Um nó simples prende a bola.
Trata-se, portanto, de retirar o anel sem, condição absoluta, o desatar.
Quando o Alexandre Magno se deparou com o célebre nó Górdio, a sua atitude não deve ter sido muito diferente do daquela cliente. Deve ter mirado e remirado de todos os lados, coçado a cabeça e tomado a sua decisão. Alçou a espada e, zás.
A cliente não foi tão expedita, ou porque lhe tivesse faltado a tesoura ou porque não quis estragar o jogo. Mas aferrou-se a ele com uma decisão firme, dedos fortes a empurrar a argola contra a esfera, «não hás-de ser mais teimosa do que eu», e crac: a argola cedeu na soldadura, e, um tanto amolgada, soltou-se do cordão.
A senhora abriu um largo sorriso e apresentou ao feirante o enigma resolvido.
Não há nada a dizer, pois não?
Quando um jogo, como o futebol, por exemplo, é encarado a sério e é assumido como de vida ou de morte, fazer faltas, mesmo as mais violentas, considera-se, enfim... aceitável.
Como censurar, então a senhora, pela dedicação ao prob O nome lema e pela solução encontrada?
E ficamos com um problema:
Se aceitamos, com Gregory Bateson, nos Metadiálogos, que, quando não nos sentimos tentados a fazer batota, a contornar as regras, então é porque não estamos a encarar o jogo a sério, a conclusão é a de que a democracia nunca pode passar de uma brincadeira, um jogo que se joga quando as coisas não são importantes.
Claro que as mulheres, desde sempre nos deram exemplos de que nem tudo pode ser submetido a consensos e, muito menos, a votações. A vida dos filhos, por exemplo.
Mas, para que isto não seja um simples argumento a favor da força, onde está a falácia?
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1) O seu nome e a profissão, bem como outras referências pessoais, foram retiradas deste texto a pedido do interessado.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Lido por aí

Com a devida vénia:

«Outra curiosidade é que o valor mais importante transmitido ao longo dos episódios é o da honra. Hoje em dia seria impensável fazer uma série em que o aspecto mais relevante fosse a honra, poderia ser a lealdade, a coragem, mas a honra está a cair em desuso e tanta gente já nem sabe o que isso é.»


Em http://holehorror.blogspot.com/2008/10/lixo-televisivo-e-honra.html, a propósito de antigas séries televisivas.