O poeta de Alcácer-Quibir:
Que queres, afinal, que faça por ti? Para guerreiro, estás velho, Luís Vaz. Não tens cavalo, disseram-me que vendeste a armadura. Para comer. Passas fome? Muitas vezes?
Eu já tentei, mas não é a mesma coisa, pois não? Não conheces esta serra, há um pequenino mosteiro lá em cima, os monges capuchinhos vivem em grande parcimónia. Estive lá recolhido dois dias, tentei jejuar... não acreditas, mal souberam que era lá que eu estava, estragaram tudo. Uma caravana pelas veredas, capões e cabritos e os cozinheiros do palácio. E o meu confessor, Luís Gonçalves, com um cruxifixo e a água benta, a pensar que eu estava possesso do demónio. Pobres ermitas, há anos que não viam tanta comida, foi uma vergonha, o vinho de Carcavelos caiu-lhes na fraqueza, e imaginas, o velho abade a querer ser severo e nem se aguentava nas pernas...
Porque é que não me deixam, Luís Vaz? Porque é que o Rei não pode fazer o que quer? Nem sequer te posso nomear poeta do Reino, Vossa Magestade não deve preocupar-se com essas coisas comezinhas, já nomeámos D. Diogo Bernardes, que vem recomendado do Senhor D. Pero Carneiro, fidalgo de muito, que é preciso contentar.
Vossa Magestade tem é de presidir ao Conselho, tem é de receber a embaixada do Senhor D. João de Austria. E esta semana, temos de partir para Lisboa, Vossa Magestade não pode faltar ao solene te Deum em S. Roque... E eu só queria que me deixassem passar fome uns dias. O Rei nem isso pode ordenar?
1 comentário:
Obrigado, Ana, pelo seu convite.Os desenhos são, de facto, originais e terei muito gosto em lhes ser útil. Não descobri o seu contacto, mas como tem o meu, mande-me um mail com os detalhes que entender.
Cumprimentos para o grupo.
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