Marreta e Graza: Não, isso ele não esqueceu. O que esqueceu foi de levar a dialética às suas últimas consequências: a síntese entre as duas classes, a burguesia que detém o capital e o proletariado, não era ainda a sociedade sem classes: afirmou-se uma nova tese. Qual é e como será a classe que se lhe oporá, a negação, é o que temos ainda de descobrir. Há palpites? Um abraço.
Bom dia, Tacci. Por volta dos anos 40 do século passado Weber criou a teoria da racionalidade burocrática como resposta a uma necessidade premente, consequência do crescimento progressivo dos burocratas, os trabalhadores dos "burreau", os trabalhadores terceários e, por generalização, todos os que não trabalhavam no campo e na fábrica. Nascia uma nova classe. Nem burguesia, nem proletáriado, a "classe média" está entre elas: não detém os meios de produção mas também a sua força de trabalho não é braçal. Imagino que a ironia tacciana se oriente para os burocratas, essa classe que emergiu como uma necessidade social e se transformou em poder.
Receio que o último estádio do modo de produção capitalista tenha de facto sido ultrapassado. Não importa já grande coisa a propriedade, seja ela privada ou pública. Aliás, as últimas décadas têm-nos mostrado que ela muda de estatuto consoante as flutuações do mercado: ainda não se privatizaram os Jerónimos, vá lá; mas os descontos que fizemos para as nossas pensões já não tenho tanto a certeza. E a CGD, que é propriedade de todos nós, comporta-se como? E o Palácio da Pena, quando é que é privatizado para se fazer um hotel de charme?
Isto que eu vou dizer é ainda confuso para mim próprio, mas julgo que o capitalista se limita a adquirir decisões. Nisso está tal como eu: eu investi - fui obrigado a isso - numa tal caixa geral de aposentações, que por sua vez vai investindo aqui e ali para, aparentemente não deixar desvalorizar o meu dinheiro. Eles, os capitalistas, podem ir mais longe e investem logo através dos bancos ou das sociedades corretoras. A posse do capital, portanto, já não parece importante como era no tempo do capitalismo financeiro. A nova fase do capitalismo, se ainda lhe pudermos conservar esse nome, parece assentar, como diz o Jad, num novo instrumento de produção que se junta aos anteriores: a fábrica não eliminou a oficina, somou-se-lhe. E a secretária com o seu computador somou-se à fábrica. O burocrata é o novo proletário que por aí anda a penar, sem saber se, quando chegar à idade, a sua pensão ainda vale alguma coisa: executa e carimba, pobre dele. Mas quem decide? O novo "dinheiro", aquilo que se troca por todas as coisas como o fogo do Heraclito, não será o poder de decidir, de mobilizar os recursos, os privados e os públicos indiferentemente? Este vale aqui é privado, o rio é lindo, público, claro, mas que se lixe, a gente agora quer pôr aqui uma barragem. Aquela igrejinha ali está a estorvar? Afundem-na. Não se pode? Levem-na lá para cima. E o cemitério? Também! Meu Deus! E as gravuras? Quanto custam? Não, então adiamos a decisão. A nova classe que se afirma por aí é dos adminitradores-gestores-executivos: não tem ainda nome, julgo eu. «Aproprietários», sugeriria eu. Porque não são proprietários (significativamente) de nada - de onde o «a-» = não - e porque se apropriam, em nome das empresas ou deles próprios, do que lhes interessar. E o próprio estado já não passa de uma empresa como as outras, bastante complicado e, obviamente, com os piores administradores que havia no selecto mercado dos gestores. Não é?
Um abraço e desculpem ter demorado tanto tempo a responder aos vossos comentários.
8 comentários:
Que o capital se multiplica?
Saudações do Marreta.
Impec!
abraço
Eu aventaria que é mais grave: Que ele se replica! Não?
Não dos deixe na dúvida!
Um abraço.
P.S. Confesso que hoje estava à espera de Letras (Camões), mas está bem, alinhou pelas notícias...
Marreta e Graza:
Não, isso ele não esqueceu.
O que esqueceu foi de levar a dialética às suas últimas consequências: a síntese entre as duas classes, a burguesia que detém o capital e o proletariado, não era ainda a sociedade sem classes: afirmou-se uma nova tese. Qual é e como será a classe que se lhe oporá, a negação, é o que temos ainda de descobrir.
Há palpites?
Um abraço.
Obrigado, Ema.
Um abraço também.
Confesso não tive coragem para "O Capital"... talvez esteja por isso aqui em desvantagem. Não arrisco, fico atento.
Bom dia, Tacci.
Por volta dos anos 40 do século passado Weber criou a teoria da racionalidade burocrática como resposta a uma necessidade premente, consequência do crescimento progressivo dos burocratas, os trabalhadores dos "burreau", os trabalhadores terceários e, por generalização, todos os que não trabalhavam no campo e na fábrica. Nascia uma nova classe. Nem burguesia, nem proletáriado, a "classe média" está entre elas: não detém os meios de produção mas também a sua força de trabalho não é braçal.
Imagino que a ironia tacciana se oriente para os burocratas, essa classe que emergiu como uma necessidade social e se transformou em poder.
Abraço
Meus caros Graza e Jad:
Receio que o último estádio do modo de produção capitalista tenha de facto sido ultrapassado. Não importa já grande coisa a propriedade, seja ela privada ou pública. Aliás, as últimas décadas têm-nos mostrado que ela muda de estatuto consoante as flutuações do mercado: ainda não se privatizaram os Jerónimos, vá lá; mas os descontos que fizemos para as nossas pensões já não tenho tanto a certeza. E a CGD, que é propriedade de todos nós, comporta-se como?
E o Palácio da Pena, quando é que é privatizado para se fazer um hotel de charme?
Isto que eu vou dizer é ainda confuso para mim próprio, mas julgo que o capitalista se limita a adquirir decisões. Nisso está tal como eu: eu investi - fui obrigado a isso - numa tal caixa geral de aposentações, que por sua vez vai investindo aqui e ali para, aparentemente não deixar desvalorizar o meu dinheiro. Eles, os capitalistas, podem ir mais longe e investem logo através dos bancos ou das sociedades corretoras.
A posse do capital, portanto, já não parece importante como era no tempo do capitalismo financeiro.
A nova fase do capitalismo, se ainda lhe pudermos conservar esse nome, parece assentar, como diz o Jad, num novo instrumento de produção que se junta aos anteriores: a fábrica não eliminou a oficina, somou-se-lhe. E a secretária com o seu computador somou-se à fábrica. O burocrata é o novo proletário que por aí anda a penar, sem saber se, quando chegar à idade, a sua pensão ainda vale alguma coisa: executa e carimba, pobre dele.
Mas quem decide?
O novo "dinheiro", aquilo que se troca por todas as coisas como o fogo do Heraclito, não será o poder de decidir, de mobilizar os recursos, os privados e os públicos indiferentemente? Este vale aqui é privado, o rio é lindo, público, claro, mas que se lixe, a gente agora quer pôr aqui uma barragem.
Aquela igrejinha ali está a estorvar? Afundem-na. Não se pode? Levem-na lá para cima.
E o cemitério? Também! Meu Deus! E as gravuras?
Quanto custam?
Não, então adiamos a decisão.
A nova classe que se afirma por aí é dos adminitradores-gestores-executivos: não tem ainda nome, julgo eu. «Aproprietários», sugeriria eu. Porque não são proprietários (significativamente) de nada - de onde o «a-» = não - e porque se apropriam, em nome das empresas ou deles próprios, do que lhes interessar.
E o próprio estado já não passa de uma empresa como as outras, bastante complicado e, obviamente, com os piores administradores que havia no selecto mercado dos gestores.
Não é?
Um abraço e desculpem ter demorado tanto tempo a responder aos vossos comentários.
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