segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Que parvos que somos


Há quanto tempo não tínhamos assim uma canção de protesto, daquelas que vão direitas à mouche, quer dizer, canções que, de repente assumem o sentir colectivo?
Dantes iam surgindo umas que a gente cantava sentados nos degraus da faculdade, tipo:
«Canta, canta, amigo canta, vem cantar a tua canção, tu sozinho não és nada, juntos temos o mundo na mão...»
Ou então, acontecia, perguntarmos «ao vento que passa, notícias do meu país. E o vento cala a desgraça e o vento nada me diz...»

Agora que estamos entregues a
comentadores-mais-ou-menos-comendadores, à sua comenda e bebenda assentados, até corremos o risco de acreditar que a política do pleno emprego e a da educação universal foi errada e que num país de mão de obra escrava os escravos refilam tanto menos quanto menos estudarem e assim deve ser.

Sim, a culpa é dos Robertos Carneiros e dos Marçal Grilo - vá lá que são estes - alegadamente por esquecerem que a educação vai a par com os estudos de mercado.

Tomem lá, que a canção dos Deolinda é "a resposta, e uma boa resposta" à vossa "'prioridade das prioridades'" (VPV, em 5/2 dixit).

Ah, comendadores, comendadores!

Que parvos que somos...

6 comentários:

Unknown disse...

Povinho de gente conformista e acomodatícia!

Mário Linhares disse...

Eu estava no Coliseu quando ouvi pela primeira vez esta canção.

Todos vibraram de tal forma que não se percebia bem o que estava a acontecer.

Quando alguém nos fala de forma tão directa e verdadeira, somos apanhados de surpresa... falam-nos de nós com uma clareza assustadora...

tacci disse...

Mas pode ser que no dia 12 de Março se vejam coisas diferentes, não?

tacci disse...

Mário Linhares:

Foi o que eu também senti, mesmo sem lá ter estado.
Mas trabalhei uns três anos a recibo quando tinha vinte anos e tenho uma filha que trabalhou mais de dez sem qualquer contrato, mesmo com alta qualificação.
Suponho que a canção nos toca a todos, pelo menos um bocadinho.

Um abraço e seja bem-vindo.

fado alexandrino. disse...

Discordo totalmente da interpretação que dão à canção como aliás hoje esclareço no meu blog.
Não consigo lá ver, nem com lupa, nenhuma referência aos recibos verdes.

tacci disse...

Meu caro:
Os recibos verdes ainda são qualquer coisita. Dá-se metade às instituições, ao fisco, à segurança social, mas pode ser que sobre para um cafézito.
Mas os estágios de graça?
E as horas, não lhes chamemos extraordinárias, porque são da mais ordinária escravatura porque tas impõem e não tas pagam e duram, quantas vezes, até de madrugada?
Os Deolinda não têm de dizer tudo:
sugerem, aludem, são compreendidos.
Podemos projectar nas suas palavras o que nos incomoda.
É quanto basta, não é?
Ou teremos de ficar só com o Quim Barreiros e a Ana Malhoa?

Um abraço.