segunda-feira, agosto 20, 2007

Should any acquaintance be forgotten

Auto da Visitação

Acto único
cena única

Em cena está a Gi. Entram o Carlinhos, o Zé Nesgas, a Cusca e vários figurantes.

Cusca - É agora é que a gente canta?

Zé Nesgas - Pst! Quem é que manda aqui? Primeiro é o discurso. Vá lá, ó mongas. Tá'záspera de quê?

Carlinhos (lendo) -Hum-hhhum! S'Dona Gi, a gente veio cá, é só p'ra dizer que é assim mesmo, a gente acha que sim senhora!

A S'Dona Gi tem direito a Contradizer-se e a Ir-se embora, que são aqueles direitos que não vêm na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Parece que foi o Camus quem disse e era um g'anda maluco que escreveu sobre a peste. A gente acha que a sida é que dava jeito, mas ele, sobre as outras doenças, não disse mais nada.

E também podia era ter escrito sobre outra coisa que falta lá nos direitos do Homem e que é o Direito à Preguiça e isso é que era bué da fixe, a ver se os profes não passavam tantos têpêcês. Mas o pai alí do Zé diz que essa coisa dos Direitos do Homem é só para armar em gente fina é outra nice, porque quem não tem papel não tem vícios, é o que ele diz, e os Direitos do Homem é como os cigarros, já não se fuma nos escritórios, nem nas fábricas. Lá na Escola é que se fuma, mas é só os alunos, lá ao fundo, ao pé do Ginásio. As auxiliares são velhas e não podem correr atrás da maralha. Por isso só os Stores é que não fumam, tá a ver?

A gente acha que os Direitos do Homem é a mesma coisa, é uma g'anda treta. A S´Dona Gi não é homem, por exemplo, a Magrizela também não e é assim, o mundo tem pais e mães e pronto. E então, é como? Não têm Direitos? Não podia ir-se embora e tudo isso?

A gente acha é que sim e prontos.

Só ali a Cusca é que diz que havia lá no Bairro dela uma senhora que era amiga dos cães e gatos vadios e ia lá todos os dias dar-lhes um tacho de arroz e ossos e coisas dessas. E um dia, coitada, teve de ir para o hospital, que já era bué da velhinha e, pronto, nunca mais apareceu. A malta, tá-se a ver, teve de ir à vida para outro lado. Mas a Cusca diz que há um cão que ainda vai todos os dias à porta da velhinha, a chamá-la assim com as unhas na porta.

E é o que a gente tinha p'ra dizer. Acho que não havia mais nada, pois não? Mas, olhe, se a S'Dona Gi ouvir arranhar na porta, não ligue, não precisa de abrir. É só algum cão vadio com saudades, assim com'a gente.

Zé Nesgas - A gora é que é a cantiga.

Todos - She is a jolly good fellow, /She is a jolly good fellow, /She is a jolly good fellow, /and so say all of us...

Cai o pano




4 comentários:

mulher disse...

lindo! lindo! lindo! e muito ternurento. a Gi é uma sortuda!

Gi disse...

Querido Tacci. Como a Ana diz eu sou mesmo uma sortuda em ter alguém que me trata com tanto carinho e, tenho a certeza, me quer bem.
Enviei-lhe um mail há dias possivelmente foi para "spam" (depois confirme p.f.) onde lhe dava nota deste "fecho" se bem que no final reconsiderei e lhe chamei temporario. Apenas desconheço o tempo que vou demorar. Eu volto. É uma promessa.
O blogue está em módulo privado para lhe mexer sem interferir com a dinãmica habitual do blogue e não me sentir de alguma forma pressionada por não cumprir os prazos que eu própria estipulei. O meu espírito competitivo deixa-me sempre ficar mal porque o faço comigo própria. Não consigo estabelecer limites e por vezes esgoto-me. Só isso. Não tarda estou aí a abrir a porta, entram todos como sempre que como diria o Carlinhos : Ou há moralidade ou comem todos :)

Um beijinhos grande
Eu vou aparecendo (também é uma promessa)

tacci disse...

Anita, agradeço-te o «lindo, lindo, lindo». Quanto ao resto, ups!
Um abraço.

tacci disse...

Gi, claro que recebi o seu mail e agradeço-lhe muito a atenção. Quis responder-lhe, dizer umas coisas simpáticas, mas como já reparou, sou um nadinha reservado. Não tenho grande jeito para banalidades convenientes e o pudor não me deixava dizer-lhe as coisas que verdadeiramente gostava de lhe dizer: que me é muito querida, que sinto a sua falta e que o seu blog era, de longe, o mais estimulante de todos. Os desenhos, uma historinha que metesse cães e um porta-voz como o Carlinhos foram os únicos meios que encontrei para desemperrar a voz. E quis dizer-lhe, Gi, que «ir-se embora», preguiçar, mudar, mandar-nos dar uma volta, são direitos seus pelos quais não precisa de se justificar.
Se nós ficarmos com saudades suas, é como o Renard, do Petit Prince. Nous avons tous gagné à cause du blé.
Um beijinho Gigi.
Até sempre.