sexta-feira, novembro 07, 2008

Obamocepticismo

Não sei bem a quem devemos pedir que nos perdoem por, aqui no «Portugal, caramba!», sermos Obamocépticos.
E não é por causa do próprio Barack Obama, que, por tudo o que de si mostrou, nos mereceria o benefício, mais do que da dúvida, da confiança.
Mas a crença, o optimismo, fazem-se caros.
Não vêm quando os chamamos.
Também gostaríamos de acreditar em Deus e sabemos que, provavelmente, não existe. No entanto, por vezes, como qualquer desesperado em desesperadas situações, também rezamos.
E gostaríamos de acreditar que sim, que a partir de agora, tudo vai mudar, que nunca mais haverá bombardeamentos cirúrgicos, nem guerras preventivas, nem danos colaterais. E também que vão acabar de vez as «guerras das estrelas» e os «escudos anti-míssil» (e já não ousamos rezar sequer para que acabem os próprios mísseis...)
Gostaríamos de acreditar que uma nova convenção de Genebra vai ser assinada também pelos EEUU e que os exércitos de mercenários disfarçados de empresas de segurança vão ser proibidos; que os criminosos de guerra, pertençam ao lado a que pertencerem, seja qual for o Departamento de Estado que os recrutou, irão ser julgados em tribunais suficientemente independentes. E não pedimos já, nem a Deus nem a Obama que os responsáveis pela morte de Allende, pelo esmagamento do Chile, os Henry Kissinger e os outros todos, sejam julgados pelos seus crimes. Nem pedimos que George W. Bush, Rice, Rumsfeld ou Cheney compareçam diante de um qualquer Grande Júri para dar conta dos seus actos.
Mas talvez um pequeno milagre nos fizesse acreditar, ao menos, um pouco: se o ainda Senador Obama, mas já Presidente para a maioria dos americanos, exigisse, de imediato, sem hesitações nem argumentos, o encerramento de Guantanamo e a entrega de todos os prisioneiros, reintegrados nos seus direitos de seres humanos, aos tribunais civis. Já!
Talvez então, a fé acontecesse.

19 comentários:

Graza disse...

Corria o risco de me tornar beato se ele levasse alguns daqueles sacripantas à barra do tribunal. Assim, estou na mesma, também sem fé. Não lhe bastam algumas boas vontades para endireitar tanto poder que lhe foge ao controlo, para não falar na outra metade que não votou nele e que é de por os cabelos em pé como tivemos oportunidade de ver.

Graza disse...

“Esses Kissinger's só podem morrer porque é a única coisa que lhes resta. Que importa Tacci que morram tranquilos quando é a última coisa que vão levar desta vida. Entendo mortes assim como castigo. Quem vai ficar na história é Che, é Allende, é William Wallace (o tal Braveheart escocês). Dos verdugos, ninguém saberá, ou então a história se encarregará de lhes apoquentar o túmulo.”

Esta foi uma resposta dada noutro lado, mas pela ligação que tem com uma parte do texto, também fica bem aqui.

Beatriz Lamas Oliveira disse...

eu acredito que Obama representa uma esperança que o ultrapassa. Tem a ver com a cor da pele, a elasticidade, a plasticidade, o sorriso, o percurso pessoal, a história da Mãe, o inconformismo,a Avó Sara,o Pai Hussein,o meio irmão keniano e a meia irmã americana, o ser mutt e o ser do mundo! Mesmo que Obama não nos ofereça aquilo que cada um de nós nos seus sonhos deseja , ele já nos deu motivos para sonhar.
Parte desse sonho tornou-se já realidade, e passou pelas mãos e pelo voto de milhões de homens e mulheres de cabelo loiro e olhos azuis, e de cabelo escuro e olhos amendoados , de todas as cores e raças que acreditaram que o sonho era possivel. Pode Obama desiludir-nos. Nós é que já não podemos voltar atraz. Nem queremos. Os sonhos são possiveis.
Mas é preciso lutar para os concretizar!! Não é Obama quem nos vai trazer o futuro numa bandeja. Temos de ser nós a dizer que futuro queremos, como os Americanos disseram ao mundo que Presidente queriam. A luta continua!!! há uma coisa em que eu acredito: Obama tem as antenas de um mutt para sentir o nosso sentir e é isso que o torna carismático e é isso que atrai tanta esperança!

ana disse...

fada sininho: se queremos igualdade não é pela cor da pele que a diferença se faz sentir. Que importa se fosse albino?

Beatriz Lamas Oliveira disse...

as pessoas não são todas iguais.
A idade, a cor da pele, dos olhos,a altura, o peso,o aspecto físico de Obama (e de cada um de nós) conta_como conta a forma como ele se exprime, o magnífico domínio da lingua inglesa que utiliza_contam a forma de sorrir e a segurança que revelam_o nosso aspecto revela muito de nós e tem um grande impacto nos outros. Nem todas as pessoas "boas" são carismáticas ou nem todas as pessoas muito inteligentes são "boas".Nem todos os criativos são inteligentes e nem todos os sensíveis são artistas...e por aí fora, é um exercício de imaginação! Mas o conjunto do aspecto físico revela indícios que escapam ao próprio e que o próprio pode ou não aprender a utilizar.Os actores aprendem a utilizar, acentuando ou atenuando aspectos físicos que transmitem uma impressão subliminar.De atração ou de repulsa, por exemplo.
Se Obama fosse albino , não teria o mesmo passado, a mesma sensibilidade, a mesma experiencia visceral do mundo exterior.Não suportaria a luz solar e teria de fazer a campanha eleitoral de noite...
Não somos todos iguais.
O facto de sermos muito diferentes uns dos outros obriga a uma aprendizagem ,que é vital para o nosso desenvolvimento e sobrevivência, uma aprendizagem que implica a descoberta de nós mesmos. E depois, a da variação dos outros. Assim acabamos às vezes a descobrir quem são os outros de quem gostamos e quem são os outros com quem cooperamos ou com quem competimos ,lutamos pelo espaço...
A vida é difrença e inovação! Merecemos todos as mesmas oportunidades para revelar-mos o nosso melhor.E às vezes revelamos o nosso pior.

Beatriz Lamas Oliveira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Beatriz Lamas Oliveira disse...

Dado que tudo é sujeito a interpretação, o que prevalece a dado momento, é consequência do poder e não da verdade. Esta frase de Nietzsche é para nos fazer reflectir e provocar!
Foi o meu filho mais novo , o Bartolomeu, quem um dia me chamou a atenção para a relação entre o poder e a verdade!!!
Ele era muito novo e eu fiquei siderada!nunca mais esqueci!

tacci disse...

Graza: o Kissinger, por ele próprio, nem sequer me interessa. Mas gostava que fosse julgado, nem que fosse como o Pinochet, de uma forma quase platónica; houve um tribunal que, em representação de um povo, declarou: este homem é um criminoso. Gostaria que acontecesse o mesmo aos Kissingers todos, onde quer que estivessem. Aliás, não percebo muito bem porque é que os chilenos não abrem um processo contra ele por conspiração contra um estado legítimo, incitamento à desobediência, suborno e outras coisas do género. Teria o direito a defender-se, claro, e à presunção de inocência. Mas teria de responder pelos seus actos. Já era qualquer coisa, não?

Graza disse...

Tacci: entendido. Há questões que de tanto me tocarem, tenho receio de transformar em causas que podem tornar-se perdidas. Mas pode querer que se houver algum leve indício de que aquele abutre é o próximo a poder ir a tribunal, serei o primeiro a aderir à causa. Por enquanto, resta-me aquele enorme desprezo de nem me importar como morrem.

ana disse...

fada sininho: acreditar nas palavras é uma coisa, conseguir, poder, ter oportunidade de actuar é outra, era s+o isso que queria dizer. Infelizmente no nosso mundo as coisas simples não são fáceis.

Anónimo disse...

Também sou um Obamocéptico!

Já não acredito em determinadas coisas, sobretudo quando provenientes dos EUA.

Muitos poderes instalados obstarão a mudanças demasiado radicais, pelo que não espero grandes melhorias.

No entanto, não deixo de ficar contente por, de alguma forma, acreditar que uma nova consciência possa estar a despertar por lá. Uma consciência de que vivemos num mundo globalizado e interdependente e que não estão sozinhos, não "podem, querem e mandam".

Enfim...cá estaremos para ver.
E espero que o senhor não acabe baleado por um qualquer Lee Oswald.

Sara disse...

Eu sou humanoceptico... e na verdade, os comentarios do genero, “ja nao acredito em determinadas coisas, sobretudo quando provenientes dos EUA" chateiam-me!

Sinceramente, os governos europeus criticam mas de facto nao fazem nada... e o caso de Guantanamo e apenas um dos varios exemplos onde a Europa nunca tomou uma posicao seria. Dizer que e inaceitavel nao e suficiente... no fundo, os governos europeus congratulam-se por haver alguem que queira fazer o trabalho sujo por eles e deixam andar.

Peco desculpa pela falta de acentos mas o teclado e americano.

Beatriz Lamas Oliveira disse...

Realmente Gamesh, basta olhar para um Berlusconi e sentir o cheiro do lixo napolitano para nos dar uma de esperança na europa!! ou na China!!!

Anónimo disse...

Não quis minimamente sugerir que somos melhores, aqui na Europa ou em qualquer outra parte. Embora até ache que somos, de facto, um pouco melhores.

Simplesmente, que há uma série de interesses instalados nos EUA que dificilmente tolerarão determinadas frescuras de quem quer que seja. Daí o meu Obamocepticismo...

Quanto a chatices...não as temos todos?

tacci disse...

Graza, também compreendo o que dizia. Às tantas acabamos por pensar: que se lixem, desde que desapareçam...
Um abraço.

tacci disse...

Sininho:
Espero que o poder de impor a verdade se vá desvanecendo com o tempo.
A autoridade também se esfuma.
Os nossos filhos aprenderam, à sua custa, claro, o que até pode nem ter sido mau de todo, que nós não lhes dissemos sempre a verdade. E o João Paulo II acabou por pedir desculpas ao Galileu em nome da Santa Madre Igreja, não foi?

tacci disse...

Pois é, Ana.
Mas, atenção: quem gosta de coisas fáceis?

tacci disse...

Sara
Seja bem vinda e não se zangue connosco: em primeiro lugar, desconfio que o nosso Obamocepticismo tem muito a ver com o receio de mais uma desilusão... e com o velho costume campónio de achar que o optimismo dá azar.
E quanto à hipocrisia europeia, infelizmente para nós, europeus, acho que a Sara tem toda a razão.

tacci disse...

Gamesh
Os diabos confundam os Lee Oswald todos nas profundas do Inferno e mais os seus mandantes e mais os cúmplices dos seus mandantes.
E que a nova consciência de que falas (que, aliás, sempre existiu nos EEUU, veja-se a abolição da escravatura, o movimento contra a Guerra do Vietnam e sei lá que mais) tenha a sua janelinha de oportunidade, nem que seja uma nesgazinha.
São os nossos votos, mesmo se sabemos que são apenas os nossos votos.