O facto em si, tal como o relatava o El País de ontem, não tem grande interesse: Estefania, que nasceu rapariga, transformou o seu corpo de acordo com o género a que desejava pertencer e tornou-se no Rubén.
Até aqui, nada de novo.
Como é próprio dos jovens, o Rubén, apaixonou-se por Esperanza, uma senhora um pouco mais velha e, de casa e pucarinho, decidiram ter um filho, tal e qual como qualquer outro casal que por aí ande.
O invulgar da história é que Esperanza, que é já mãe de dois filhos, não pode ter mais. E bom, como em qualquer casal, quem engravida, é aquele cujos órgãos femininos se encontram funcionais - num casal tradicional é a mulher e pronto, não se fala mais nisso.
No caso vertente, porém, quem tem um útero funcional é o Rubén que, por via da mudança de género, desempenha um papel masculino, ou seja, é um homem.
Não sendo muito usual, no fundo, se pensarmos bem, é lógico.
O que levanta algum problema, são as declarações de um tal Dr. Ballescà, ginecologista e responsável, diz-se, por uma unidade de Andrologia reprodutiva em Barcelona.
"Pelo facto de que esta gravidez seja tecnicamente realizável" diz o médico, "não se segue que seja eticamente aceitável."
E nós concordamos. De "A" ser possível, não se pode concluir o seu valor ético. A bomba atómica é um bom exemplo. E uma menina de doze anos ou mesmo de onze pode «tecnicamente», se a palavra aqui tiver cabimento, engravidar. O que segue é que essa gravidez possível é altamente indesejável e eticamente inaceitável.
Porém, continua o ginecologista: "A intervenção de mudança de sexo deve ser total, o que acarreta a extirpação dos ovários!" E acrescenta: "És una contradiction".
De facto: um homem é um homem e um gato é um bicho. Mãe há só uma e, por definição, um pai não tem ovários.
Ora, neste caso insólito, a figura paternal vai ser a mãe. E o cônjuge da mãe (que costuma ser o pai, mas não sempre) vai ser a figura maternal. É confuso, não é?
Imaginem o pobre conservador do registo civil lá do sítio:
- Mas, então...? E eu escrevo o quê? ... E escrevo aonde?
Se for um daqueles que também por aí andam, há-de deitar as mãos à cabeça e sair pela porta fora aos gritos:
- Contradição! Contradição!
Já não havia estações, chove e faz frio em Agosto; nas estâncias de Inverno, em vez de esqui, tomam-se banhos de sol. Os bancos que costumavam emprestar dinheiro às pessoas e viviam disso, agora pedem dinheiro ao Estado e não se percebe de que é que tencionam viver quando a economia for para as urtigas.
E, para cúmulo, os pais armam-se em mães e decidem ser eles a ter os filhos.
Eu, por mim acho que é um escândalo! O Dr. Ballescà, se calhar também. E o Sr. Papa, mesmo se ainda não se pronunciou, vai uma apostinha em como também vai gritar «contradição, contradição?»
E porquê? Alguém nos deu o direito de nos metermos onde não somos chamados?
7 comentários:
Tacci, se no mundo existisse só o casal, não haveria de ter problemas - o problema são os outros - O que penso é o que falar para o filho e como o filho explicar para os amiguinhos. Se logo existir os andróides! Beijus
Luz de Luma:
Não sei responder à sua questão. Mas pertenço à geração dos primeiros divórcios aqui no burgo e os nossos filhos enfrentaram bastante bem o facto de os pais já não viverem juntos e de terem novos parceiros.
Afinal, o que nós temíamos, que eles se sentissem discriminados ou envergonhados, não se verificou,
pelo menos a partir de uma certa banalização dos divórcios.
Mas é claro, um casal que se sinta diferente e que está a confrontar-se com os preconceitos deve preparar os filhos para actuarem como pioneiros.
Deixe-me dar-lhe só um exemplo: um gaiatinho, na sequência de um acidente, ficou com um pequeno defeito na fala. O pai ensinou-lhe um par de sólidos palavrões para responder a quem se metesse com ele por causa disso.
Resultou, sabe?
Eh pá, ainda bem que não tenho que opinar sobre isto! É que há mesmo questões para as quais não tenho opinião no bolso.
Nem eu tenho, Graza.
Mas, não pensa que deixar aos interessaados a liberdade de cuidarem dos seus interesses, é já uma opinião suficientemente válida?
O meu grande receio, em questões deste e de outros tipos, é o de deixar que a minha ignorância e os meus medos se tornem em entraves à liberdade dos outros.
Mais tarde ou mais cedo, acabarei a entravar a minha - e este é lado egoísta destas minhas tomadas de posição.
"...é o de deixar que a minha ignorância e os meus medos se tornem em entraves à liberdade dos outros.
Mais tarde ou mais cedo, acabarei a entravar a minha - e este é lado egoísta destas minhas tomadas de posição."
Uma das coisas que me dá prazer na leitura é ver alguém traduzir por palavras o que muitas vezes quero dizer e nem sempre o pensamento as encontra. Subscrevo inteiramente o sublinhado. Quanto à pergunta que faz:
- Sim, é! Mas...
É que me parece haver por aqui um alçapão dissimulado. Não sei.
Comparo algumas respostas a dar a questões em que nunca pensamos, como aquela tentativa de conseguirmos fazer um circulo com a ponta do pé direito no chão, ao mesmo tempo que fazemos um com a mão direita em cima da mesa, mas no sentido inverso. Há resposta que bloqueiam com zonas do cérebro em utilização.
Não percebo onde está o problema. A mim nunca ninguém me perguntou quem é que me pariu, se foi o meu pai ou a minha mâe.
Mas há problemas, anónimo, mesmo que não os queiramos perceber. A mim também ninguém perguntou: era suposto.
Nos tempos que correm, porém, o que dantes se supunha tão naturalmente, pode já não corresponder à realidade.
Os casais menos convencionais são nossos concidadãos com problemas de aceitação e de integração. Nós, convencionais ou não, temos deveres em relação a eles, claro, mas mais prementes em relação aos seus filhos.
Como reagiremos um dia destes quando nos aparecer uma criança que é filha de José Joaquim e Luís Manuel? Ou de Maria Luísa e Ana de Jesus?
Se o anónimo for professor, por exemplo, como reagirá se, na reunião dos encarregados de educação, aparecerem ambos os pais e forem do mesmo sexo? Deixará que a incomodidade se instale? Ou tentará naturalizar a situação?
That's the question, no?
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