sexta-feira, março 20, 2009

Nuno Bragança, Obra Incompleta

"Ah, tio Nietzsche: a duplicidade profunda e desprezível do «cristianismo» histórico - que tentou, tenta e tentará, meter o Rossio do Sagrado na Betesga do Poder mundano: Canossa abriu caminho aos católicos deicidas. Tio Nietzsche: tu só passaste a certidão de óbito."
(Nuno Bragança, Directa, Obra Completa,
Dom Quixote, 2009, pag. 379)


"O homem experimentou o funcionar do V0lkswagen encarnado fazendo slaloms por entre os outros veículos. Ele sente a cidade a apertá-lo como um polvo. [...] Pensa: «Nasceste sozinho como todo o puto, vais morrer sozinho como todo o homem. Qual é a novidade?»

Ib, p. 354

Não é, visivelmente, a obra completa, mesmo considerando que se restringe aos anos que vão de 69, ano da publicação de A noite e o riso até à morte do Nuno Bragança.

Estou firmemente convencido de que estará para sair um segundo volume, talvez com o restante da obra literária se, por exemplo, no Jornal Encontro, da então Juventude Católica, houver outros textos a pedirem urgentemente para serem recolhidos.

Mas, o Nuno Bragança foi ainda colaborador de jornais, escreveu crónicas, por exemplo, para o Jornal do Fundão. E os textos com que colaborou na revista O Tempo e o Modo, de que foi um dos fundadores? Certamente que merecem publicação aos olhos da renovada Dom Quixote. Não posso crer que a Editora, que pertence agora a um mega-grupo editorial (daqueles de que fala o João Aguiar em O priorado do cifrão?) se limite a aproveitar o que está mais acessível para fazer um lucrozinho fácil.

Se está encommendado estudo sério sobre todas essas escritas e se a Dom Quixote tenciona publicar esse livro - pelo qual nós lhe ficaríamos eternamente gratos - então porque não decidiu a editora escrever honestamente que neste primeiro volume se coligia apenas a obra literária? E porque não se anuncia desde já o adiantamento que leva já esse estudo e, vá lá, uma estimativa do tempo que demorará?

Posto isto: já foi bom que alguém se tenha lembrado de reeditar aquilo que já não era fácil encontrar pelas livrarias e alfarrabistas. O resto, paciência, irmãos: um dia há-de chegar.

6 comentários:

ana disse...

que a D. Quixote te leia.

Anónimo disse...

Já foi bom, pois. Mas desde quanto te contentas com o que já foi?. E não me respondas que sempre é melhor do que nada. Porque é, mas não se admite.

ana disse...

o anónimo tem toda a razão

tacci disse...

Ana e Anónimo:
Têm vocemecêses toda e toda a razão.
O que a colectânea tem de óptimo é só a escrita do Nuno Bragança. Tudo o resto é medíocre ou mesmo nulo: não há uma introdução à obra, nem ao autor. Não há notas explicativas que orientem leitores mais jovens. A nota biográfica limita-se às badanas e diz o que toda a gente já sabia e que, se não sabia, não fica a perceber.
Quando eu digo que «já foi bom», não refiro qualidade, nem a bondade da editora. Refiro só que é útil para quem gosta de ler um grande autor.
Abraços.

Eduardo Salavisa disse...

Mas eu gosto é do boneco.

tacci disse...

Eduardo, sejas bem aparecido e obrigado.
Um abraço.