quinta-feira, outubro 08, 2009

... tipo, há três anos inteirinhos


Este post anda por aqui atravessado há já um bom par de dias.
Porquê, vejam se percebem.
Nós aqui, no Portugal, Caramba! estamos no ar - uma expressão vinda da rádio - tipo, há três anos inteirinhos.
Desde o dia 6 de Outubro de 2006.
Impunha-se uma comemoração, claro, com pastéis de bacalhau e uns decilitros, azeitonas, queijinhos de Évora e mais decilitros, bagaceira e charutos.
Mas não seria a altura de perguntar: «que diabo estamos nós aqui a fazer, caramba?
Tínhamos um propósito quando começámos. Como a natureza é vária, não publicámos nenhuma carta de intenções e ainda bem; mas queríamos compreender «como é que chegámos aqui».
Durante algum tempo foi a nossa preocupação: português, sim, mas o quê?
Onde e quando começámos a ser os pequenotes convencidos de que inventávamos alguma coisa quando dizíamos «cozido à portuguesa», ou mesmo «socialismo à portuguesa»? Quando nos extasiávamos perante a Torre de Belém e revirávamos os olhos exclamando «ah! como são lindas as margens do Mondego»?
Para amadores como nós, a melhor via, em calhando, seria a literatura.
Percorremos os alfarrabistas em busca de escritores portugueses (quanto mais «carambistas!», melhor).
Lemos e demos conta de autores que, na melhor das hipóteses já ninguém lê, na pior, de quem nem sequer se ouviu falar. Intervalámos com outros, mais conhecidos ou mais recentes, desde o Gomes Leal até ao Nuno Bragança.
E como somos apaixonadamente leitores de histórias, todas as histórias, mesmo em quadradinhos; e como somos obsessivos contadores de historinhas, todas as historinhas, mesmo as mais tolas, decidimos acompanhar cada post com um desenho.
E temos cumprido, caramba!
Ao fim de trezentos e quarenta e cinco entradas, fizemos duzentos e setenta (270) desenhos, recuperámos das gavetas e cadernos mais quarenta (40), copiámos daqui e dali (capas de livros, ou assim) uma dúzia e meia (18); fotografias com a devida vénia, isso é que foi pouco: vinte e duas (22). Tudo isto mais ou menos, está bem de ver. Quem quiser que conte melhor.
Mas deu trabalho, pois deu.
E ao fim e ao cabo, talvez a ambição fosse desmedida, mas continuamos a não perceber como foi possível «chegarmos aqui».
Aqui, irmãos! Aqui.
Não nos referimos, como seria de esperar, à pobreza, à insignificância deste rectângulozinho de que até o Alberto João faz troça: não é isso que importa.
O facto é que por cá andamos há oitocentos anos, sempre em crise, com fomes e pestes, sempre com leis salvadoras como a das Sesmarias, sempre com ideias miraculosas como a Índia ou os oiros do Brasil, as colónias e a CEE. E ainda estamos entre os trinta países mais ricos, mais livres, mais tudo o que nos apetecer, do mundo inteiro.
E, em vez de nos ajoelharmos e agradecermos ao Senhor, ao acaso, à geografia, à divindade mais do vosso agrado, arrepelamos os cabelos, choramos em grande grita.
Porquê?
Para quê?
É isto Portugal, caramba?
Pois. Estamos em crer que é.

7 comentários:

Anónimo disse...

Vale o autoretrato desenhado em sentido próprio. Bastante bom.
Badesse

Graza disse...

...então e não foi obra a deste Portugal, Caramba!? Por mim foi. Viva Portugal, Caramba!

jad disse...

Viva! Viva!

tacci disse...

Obrigado, meu caro Badesse. É mais um daqueles célebres casos de auto-retrato feito pelo próprio... (ia a dizer artista, mas modéstia não mo permite, hélas!)

tacci disse...

Graza e Jad:
Obrigado, obrigado!

gamesh disse...

Então...Parabéns!!!

Três aninhos inteiros sem a asfixia democrática, ou o Sócrates, te descobrirem...é obra!

tacci disse...

Pois é Gamesh:
Eu também dou pulinhos no meu canto, «olhem p'ra mim, olhem p'ra mim, eu também digo mal de toda a gente», mas qual o quê? Nem a Asae, nem a D. Estrela Serrano nem o ministro Santos Silva, ninguém me liga!
Não é injusto?