sábado, dezembro 05, 2009

Se um avaliador incomoda muita gente...


Prof: Pá, havia de se fazer um congresso p'ra fazer um mais parvo do qu'a tu e n'haviam de conseguir!
Aluno: Ho-ho-ho! Pois não, professor!

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Declaração
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Pronto!
Declaro que gosto de pensar que fui um bom professor.
Não sei a quem hei-de pedir desculpas pela imodéstia. Aos alunos, claro, pareceria da mais elementar justiça, mas aos pais, nunca!
Mas não.
Aos alunos dei sempre o que tinha, o que roubava, o que inventava.
O que lia e o que escrevia, o que improvisava no meio da aula, com bonequinhos desenhados a giz no quadro preto.
(A propósito: sabem a história de Quonsumor, o Gordo? Estou a ver que não. Um dia hei-de procurá-la e mando-vos.)
Dei-lhes a oportunidade de pensar, de discordar, de discutir, de ser do contra ou do a favor, de me aceitarem ou me odiarem.
Pertencer, nas minhas turmas, passou pelo participar ou amuar num canto: a escolha era de cada um, em cada dia.
Muitos não aprenderam nada do que eu ensinei e atingiram o nível de excelência, como agora se diz, porque souberam pensar pela sua cabeça.
Mais do que aulas, quis que fossem foruns de liberdade.
Só houve sempre uma exigência absoluta: assumirem-se como gente, tratarem-se como gente uns aos outros.
Não sou romântico e sei que nem sempre consegui o que conseguia muitas vezes, que houve aulas preparadas ao milímetro que falharam completamente, estratégias mal pensadas que deram para o torto, turmas que não soube agarrar, que perdi alguns alunos e que, imagino, terei feito mal a outros.
Assumo que não sou modelo para ninguém.
E, para que conste, esclareço desde já:
Do que senti sempre mais a falta, foi da cooperação entre nós, professores das mesmas turmas e que rarissimamente conseguimos formar equipe.
O que mais odiei foram os exames, pré-formatados, cada vez mais preconceituosos, como se alguém soubesse de antemão como cada aluno vai responder, quais os seus erros, quais as interpretações que fazem sentido.
E percebo que nunca atingiria o nível de suficiente numa avaliação de desempenho como deve ser.
E gosto de pensar que me estaria nas tintas.
Mas atenção, não quero fingir que sou um herói: não garanto que a ameaça de os meus poderem vir a passar fome não tivesse o seu peso; talvez não conseguisse ser professor, talvez tivesse de me contentar em ser funcionário do Ministério da Educação.
Incomoda-me pensar nisso.
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Bento Sequeira
(transcrito e adaptado por Tacci)

6 comentários:

jad disse...

Li-o como se fosse teu. Porque será, Tacci?

Abraço.

Anónimo disse...

Foste um bom professor, eu vi o sorriso nos olhos dos teus alunos quando falavam de ti.
espero que saibas quem sou

tacci disse...

Pois é, Jad.
Também não sei porque será.
Um dia explico-te quem era esse Bento Sequeira e o que fez na vida.
Um abraço.

tacci disse...

Anónimo:
Não tenho bem a certeza, mas julgo que não errarei muito nas suposições.
Mas porque é que toda a gente fala do Bento Sequeira como se ele e o Tacci fossem a mesma pessoa?
Já não há respeito pela minha esquizoidice?

Anónimo disse...

o Anónimo foi tua aluna, há muitos anos e nunca esqueci.(após tantos anos é bom usar o tu)
N.

jad disse...

Tacci
Se não houvesse outras razões para se gostar da função de ensinar este comentário de anónimo bastariam. Ainda bem para ti. E para os que te tiveram como mestre.

Quanto ao Bento Sequeira... fico à espera.
Abraço