«... a partir de meados do século que findara, nas grandes cidades do sul da Europa, cresceu significativamente o número das famílias constituídas por um casal e seus, poucos, filhos. A mulher passou a trabalhar também fora de casa, em escritórios. Num primeiro período cumulou sozinha o trabalho doméstico com o que exercia fora; a seguir, o homem foi chamado a colaborar na chamada lia da casa, primeiro como auxiliar, depois com responsabilidade em trabalhos repartidos.
A partir de então, lentamente passou-se a tentar atenuar as diferenças na educação entre a dirigida a filhos e filhas. Em casa todos tinham de contribuir para os desempenhos imprescindíveis à vivência comum: numa semana cabia ao filho por a mesa e á filha lavar a loiça, na semana seguinte estes papéis invertiam-se.
Sair á noite para se divertir deixou de ser uma prerrogativa exclusivamente masculina.
Não foi sem resistências que o modelo principiou a instalar-se, não sendo naturalmente do agrado dos rapazes, antes isentos das obrigações que impunha, mostrando-se por vezes as raparigas demasiado intolerantes quanto à mínima infracção que lhes fosse desfavorável, a realidade era que os próprios pais que procuravam impô-lo traziam incutidos hábitos que lhe eram contrários.
Franqueados às massas de raparigas da classe média o ensino secundário e posteriormente o superior, às que concluíam os estudos, empregos no sector terciário, elas logo compreenderam a oportunidade de se libertar de dependências seculares. Por instinto, protecção dos filhos, escolherão parceiros que acreditem lhes lhes conferirão segurança, mas ganharam confiança em si próprias, na sua capacidade de se sustentarem, de não terem de se precipitar em escolhas, de poderem corrigir passos em falso. Acedem com mais facilidade do que os rapazes às faculdadesa, tornam-se aí em maior número, obtêm boas notas.
Olham em volta. Vêem um mundo ainda dominado por homens em lugares chaves, mas vêem também que todos os dias uma mulher atinge um posto cimeiro, e isso inevitavelmente constitui um estímulo para todas.
Chegaram, numa parcela só do velho mundo, apenas para as integrantes de um estrato social, por enquanto, tempos de emancipação feminina.
E quanto aos rapazes que coabitam no mesmo meio? Há que reconhecer algum descalabro. Perderam o modelo, ainda não o substituiram, não sabem o que fazer com as suas vidas. Os seus pais não são mais os senhores ociosos credores dos prazeres terrenos. São seres que todos os dias cedem privilégios face ás reivindicações femininas, perdem espaços, autoridade, autonomia. Muitos rapazes olham para tudo isso com uma sensação de desamparo e de revolta.
Os machos acomodaram-se numa soberba que, quando as fêmeas lha não acalentam, os deixa desorientados.»
Sérgio de Sousa, Na boda
2 comentários:
Mas há coisas que as mulheres não podem fazer. Na tropa, elas ficam sempre para trás, no treino nos caças de combate elas não aguentam a metade dos Gs que a malta aguenta. E nos tanques vomitam com o cheiro do gazóleo e ainda não estão gravidas. Essa história delas serem capazes de tudo e mais um par de botas é uma tanga dos comunas.
Pá, eu cá não sou comuna, e garanto-te que nunca fui. Mas também te digo que as miúdas são, muitas vezes, melhores que nós. Se não gostas delas, o que é que estás a fazer num blg como este?
Um abraço.
Vai aparecendo.
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