de uma armadura feita de um brilhante,
ousou falar do seu amor florido
à Senhora Duquesa de Brabante.
Dizem que o ouviram ao luar nas águas,
mais louro do que o sol, marmóreo e lindo,
tirar de uma viola estranhas máguas,
pelas noites que os cravos vão abrindo...
Dizem mais que na seda das varetas
do seu leque ducal de mil matizes...
Satã cantara suas tranças pretas,
- e os seus olhos mais fundos que as raízes!
Mas a Duquesa é triste. - Oculta mágua
vela seu rosto de um solene véu.
- Ao luar, sobre os tanques chora a água...
- Cantando, os rouxinóis lembram o céu...
O que é certo é que a pálida Senhora,
a transcendente Dama de Brabante,
tem um filho horroroso... e de quem cora
o pai, no escuro, passeando errante.
É um filho horroroso e jamais visto! -
Raquítico, enfezado, excepcional,
todo disforme, excêntrico, malquisto.
- pêlos de fera, e uivos de animal!
Parece irmão dos cerdos ou dos ursos,
aborto e horror da brava Natureza...
..............
Gomes Leal, Claridades do Sul
8 comentários:
Seria mais honesto colocar o poema completo. Ver-se-ia a dor da Mãe quando o filho morre.
Perfeitamente de acordo com a falta de honestidade do autor do Portugal, Caramba!
Assim, desvirtua totalmente o sentido do poema e perverte a mensagem da grandeza da Maternidade. Uma Mãe jamais amputaria a magnífica e "eloquente"
mensagem do enorme Gomes Leal. Enfim, o que foi feito é uma canalhada...
Perfeitamente de acordo com a falta de honestidade do autor do Portugal, Caramba!
Assim, desvirtua totalmente o sentido do poema e perverte a mensagem da grandeza da Maternidade. Uma Mãe jamais amputaria a magnífica e "eloquente"
mensagem do enorme Gomes Leal. Enfim, o que foi feito é uma canalhada...
Meus queridos «Anónimo» e Filipa: Não acho lá muito bonito acusar-me de desonestidade antes de me perguntarem porque é que eu não tinha colocado o poema completo. Concordo com a Filipa: Gomes Leal é um dos maiores poetas portugueses, senão o maior. Mas não creio que a intenção dele fosse pronunciar-se sobre o problema que só recentemente exalta os portugueses. Posso ter-me enganado na interpretação - todo o poema é uma obra aberta, não é? - mas julgo que, para Gomes Leal, o «aborto e horror da brava natureza» é Portugal, o Portugal da decadência, filho da nobreza sim, mas «monstro» como ele se considerava a si mesmo, bêbado, inconstante, incapaz de amar outra mulher que não a mãe. O «aborto» que está em causa neste poema, creio eu, é o próprio Gomes Leal - e o seu país.
Se estou enganado, a honestidade obriga-vos a dizer em quê e porquê.
Mas, para que não fiquem a pensar muito mal de mim, prometo, num próximo post, transcrever o final do poema onde se diz "só chora o filho, a Mãe".
Pronto: mesmo com os dentes de fora, como Pitbulls assanhados, vocês são sempre bem-vindos.
Um abraço.
Já lá vão quase quatro meses... Onde está o prometido "post" do poema completo? Com o início, também: "Tem um leque de plumas gloriosas na sua mão macia e cintilante de pedras finas preciosas, a Senhora Duquesa de Brabante..."
Essa dos "dentes de fora...etc...", passava-se bem sem ela. Ou será que é um reflexo do TACCI a ver-se ao espelho?
Bom...como não respondeu, aqui vai o poema -- na integra!
A Senhora de Brabante
Gomes Leal
A Alberto Osório de Castro
Tem um leque de plumas gloriosas,
na sua mão macia e cintilante,
de anéis de pedras finas preciosas
a Senhora Duquesa de Brabante.
Numa cadeira d'espaldar dourado,
escuta os galanteios dos barões.
- É noite: e, sob o azul morno e calado,
concebem os jasmins e os corações.
Recorda o senhor Bispo acções passadas.
Falam damas de jóias e cetins.
Tratam barões de festas e caçadas
à moda goda: - aos toques dos clarins.
Mas a Duquesa é triste. - Oculta mágoa
vela seu rosto de um solene véu.
- Ao luar, sobre os tanques chora a água...
– Cantando, os rouxinóis lembram o céu...
Dizem as lendas que Satã vestido
de uma armadura feita de um brilhante,
ousou falar do seu amor florido
à Senhora Duquesa de Brabante.
Dizem que o ouviram ao luar nas águas,
mais louro do que o sol, marmóreo e lindo,
tirar de uma viola estranhas mágoas,
pelas noites que os cravos vêem abrindo...
Dizem mais que na seda das varetas
do seu ducal de mil matizes...
Satã cantara as suas tranças pretas,
– e os seus olhos mais fundos que as raízes!
Mas a Duquesa é triste. - Oculta mágoa
vela seu rosto de um solene véu.
- Ao luar, sobre os tanques chora a água...
– Cantando, os rouxinóis lembram o céu...
O que é certo é que a pálida Senhora,
a transcendente Dama de Brabante,
tem um filho horroroso... e de quem cora
o pai, no escuro, passeando errante.
É um filho horroroso e jamais visto! -
Raquítico, enfezado, excepcional,
todo disforme, excêntrico, malquisto,
– pêlos de fera, e uivos de animal!
Parece irmão dos cerdos ou dos ursos,
aborto e horror da brava Natureza...
– Em vão tentam barões, com mil discursos,
desenrugar a fronte da Duquesa.
Sempre a Duquesa é triste. - Oculta mágoa
vela seu rosto de um solene véu.
- Ao luar, sobre os tanques chora a água...
– Cantando, os rouxinóis lembram o céu...
Ora o monstro morreu. - Pelas arcadas
do palácio retinem festas, hinos.
Riem nobres, vilões, pelas estradas.
O próprio pai se ri, ouvindo os sinos...
Riem-se os monges pelo claustro antigo.
Riem vilões, trigueiros das charruas.
Riem-se os padres, junto ao seu jazigo.
Riem-se nobres e peões nas ruas.
Riem aias, barões, erguendo os braços.
Riem, nos pátios, os truões também.
Passeia o duque, rindo, nos terraços.
- Só chora o monstro, em alto choro, a mãe!..
Só, sobre o esquife do disforme morto,
chora, sem trégua, a mísera mulher.
Chama os nomes mais ternos ao aborto...
– Mesmo assim feio, a triste mãe o quer!
Só ela chora pelo morto!.. A mágoa
lhe arranca gritos que a ninguém mais deu!
- Ao luar, sobre os tanques chora a água...
– Cantando, os rouxinóis lembram o céu...
Covardola! Já lá vão tantos meses e sem coragem para responder!
ler todo o blog, muito bom
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