segunda-feira, novembro 06, 2006

Memórias do cárcere: o alienista

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Na minha infância, o nosso pai pensou em internar-me.
Aos 20 anos, qualquer médico escreveu num relatório que eu era um "psicopata constitucional". Foi o dr. Sobrinho, psiquiatra que dirigia a 20ª enfermaria do hospital Miguel Bombarda, em Lourenço Marques. O enfermeiro-chefe quando me surpreendia a ler, cá fora, nas escadas, ao crepúsculo, dizia-me: "Então você, durante o dia não lê, e agora que há pouca luz..." Sorria.
Como vês, o diagnóstico estava a confirmar-se. Eu ali, no uniforme do hospício, uma vestimenta que lembrava a dos prisioneiros dos campos de concentração nazis, estava a ler Hegel.
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Sebastião Alba, Albas, /139/ quasi, 2003, pag. 73

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