Sebastião Alba era o pseudónimo de um vagabundo, alcoólico, sem bilhete de identidade e sem paciência para o ir tirar.
Do pai, professor que ensinava grego e latim aos mais pequeninos dos alunos, herdou o rigor. De quem a ascese da pobreza, esse querer ser um homeless e, apesar disso, sentir saudades do carinho das filhas, das gentes próximas, dos amigos que tinha e que perdia?
"Sem religião específica", diz Maria de Santa Cruz, "mas bebendo de todas a decantada superstição: 'São Francisco de Assis' ou a morena Santa Sara, dita 'egípcia' (gipsy) ..."
Sem - religião - específica:
(sem religião, especifica:)
"Lê hoje se puderes, o primeiro parágrafo de 'O mito de Sísifo', de Camus", escreve Sebastião Alba. "Meu pai teve, aos 35 anos, um amigo íntimo que era Major do Exército. Todas as noites se encontravam no mesmo café. Ele era alto e vigoroso; à mesa nunca deixava que ninguém pagasse as contas; trazia sempre no bolso, conta meu pai, rebuçados para as crianças.
Não casou, mas amava as mulheres. Nenhuma em particular. Um dia, com uma Walter 7.65, meteu uma bala na cabeça. Deixou um bilhete: 'estava farto de abotoar e desabotoar os botões do dolman'. Meu pai leu-o, estupefacto. Quase 50 anos depois, o meu velhote ainda diz que morrerá sem entender aquilo."
Albas, 233, quasi, 2003, pag. 135.
1 comentário:
Viva Tacci!
Agora já não deixamos de fazer sempre uma passagem por esta margem tão bonita. Estamos cheios de curiosidade para sabermos mais sobre o Sr. Alba, mas Ele lendo Voltaire é como que apresentar um verdadreiro acto de esperança. Bem-haja por todos estes presentes.
Por ora, resta-nos esperar pelo próximo fascículo.
Luís F. de A. Gomes
Enviar um comentário