terça-feira, novembro 21, 2006

Como é diferente o amor em Portugal


Um duelo provocado pela bela Fornarina
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Quando vinha trabalhar a Lisboa, a Bela Fornarina, cancionetista mundialmente conhecida, disputada e requestada por reis, engatava sempre com o meu grande amigo Abreu Loureiro, simpático rapaz, belo ginasta e galã de outros tempos. Havia, porém, um «ataché», o Dr. Cezar Pensador, uma criança a roçar pelos setenta e careca também, que tinha uma paixão assolapada pela beldade que lhe correspondia com galanteios esperançosos que mais o convenciam da sinceridade do seu amor. Apesar de andar ao «pingalim» do Abreu Loureiro, quando estava com o «cio» chegava a insultá-lo e a provocá-lo, pelo que se combinou um duelo de florete derimido no Velodromo de Palhavã de que o Abreu era empresário e a que assistiram os amigos e a própria Fornarina. Foi o Dr. Cezar admirável de coragem, batendo-se com denodo pela sua dama sendo «touché doucement» pelo antagonista umas dúzias de vezes o que convidava a assistência a desmanchar-se em risos. Findo o assalto, a Fornarina, de permeio, obrigou-os a reconciliarem-se no campo. Houve grande gaudio ao ser o moço apaixonado beijado na careca por ela própria. Acabou tudo no Suisso que, encerrando as portas, estava por conta do Abreu Loureiro.
Festa que nunca mais se esquece e que teve uma singular apoteose: uma cascata de champagne caindo em catadupas dos épicos seios da Bela Fornarina (cada vez estou mais mamífero) em pé em cima da mesa, onde estava sentado o Dr. Cezar e em cuja careca ia morrer o caudal já sem espuma por ter sido filtrado no serpentear do seu curso. Não te arrependas, querido amigo, de levares o papinho cheio.
Arnaldo Futscher Reys e Souza, Ergue a campa Vimioso, 1955

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