sábado, fevereiro 10, 2007

Manuel Ribeiro (1878 / 1941)

Ao "Deus não existe ou é cego", de Raúl Brandão, teremos, quem sabe, de acrescentar que, a não ser nenhuma dessas coisas, então está de má fé, como o homem que fez à Sua semelhança.
Não sei se não terá sido este o maior problema com que se defrontaram os jovens intelectuais saídos da república. Quando confrontados com as realidades duras da militância, os ideais, as utopias, as mais firmes doutrinas tendem a esboroar-se. As verdades mais evidentes, mais bem apoiadas pela observação, são constantemente postas em causa pela cegueira dos adversários. Teoria nenhuma, por mais bela, por mais altruísta, resiste às cedências, aos jogos políticos, aos acordos secretos.
"O idealista revolucionário", escreve Manuel Ribeiro em 1929, na carta-prefácio a Os Vínculos Eternos, "que não sem ironia a gíria social alcunha de puritano, por sua intransigência feroz em matéria de princípios, é um tipo curiosíssimo de rigidez austera, de sentimentalidade extrema, ingènuamente puro e simples, leal e franco..."
O próprio Manuel Ribeiro conheceu em primeira mão estas qualidades que atribui ao revolucionário. Ele próprio o foi, segundo reivindica: expulso da C.P. onde trabalhava, por militância anarco-sindicalista, colaborador de O Sindicalista e de A Batalha, e, posteriormente fundador de A Bandeira Vermelha, que era o órgão da Federação Maximalista Portuguesa.
Na década de 20, a sua trilogia social, A Catedral, O Deserto e Ressurreição, alcança um êxito inesperado ao traçar o percurso de Luciano, um arquitecto apaixonado pelas vetustezas da Sé de Lisboa, desde a arte da pedra até Deus.
Pouco depois foi reintegrado na C.P. e, posteriormente, transitou para a Biblioteca Nacional primeiro e a seguir para a Torre do Tombo como conservador.
Os Vínculos Eternos, que tenho vindo a citar, é o último livro de uma segunda trilogia, a trilogia nacional de que constam ainda Colina Sagrada e Planície Heróica. Desta trilogia, ainda não consegui encontrar a Planície Heróica.

4 comentários:

ATIREI O PAU AO GATO disse...

Viva Tacci, há muitos dias que não lhe digo bom dia e lhe digo que esta sua casa sempre se insere no meu roteito de visitas, mesmo silenciosas. Mas isso pouco importa, não é verdade?
Também hámuito que não lhe agradeço as suas presenças regulares "No Largo da Graça" onde sempre acrescenta um pouco mais de serenidade e uma sabedoria feita de vida e pensamento que assim ordena e potencia as leituras que o meu caro Senhor vai fazendo.
A tristeza deste país madrasta, tenho-o para mim, está lá, longe, no tempo, quando precisamente o pensamento foi obrigado a baixar a asa e a não judaizar e muito menos blasfemiarpara o que se impôs às vizinhanças a possibilidade de ganharem com a denúncia.
Jamais poderíamos ter uma cultura que se não fundamentasse na inveja e na mariolice, com um povo que por isso dificlmente poderia absorver, no seu espírito e modo de ser, a responsabilidade que a liberdade implica e élites de mão estendida para o tesouro público, dependentes das leis para fazerem negócios que para assim se manterem sempre achincalharam os mais simples e sempre criaram o círculo vicioso da mediocridade que ainda hoje nos sufoca.
Aqui, neste espaço tão cheio de interesse, o meu caríssimo Senhor combate contra isso e não é D. Quixote nenhum; tiro-lhe o chapéu e inclino o pescoço em sinal de respeito por isso. Pessoas como você, merecem-me o mais profundo respeito e sempre lhes dispenso a minha melhor admiração.
Não o empato mais. Desejo-lhe um bom Domingo na companhia daqueles que ama e a alegria de cumprirmos um dever cívico pelo qual tantas foram as mortes e tão indizível chegou a ser o sofrimento.
Que a paz esteja consigo, Tacci
Luís Foch

tacci disse...

Meu caro Luís, eu é que tenho de lhe pedir desculpa por só agora lhe vir agradecer a gentileza do seu comentário. Domingo foi um dia atribulado que, felizmente, acabou em alegria, mesmo se é uma alegria melancólica. Tudo isto podia ter acontecido já há oito anos e muita angústia teria sido poupada. Pergunto a mim próprio se a existência de blogues como o Largo da Graça que se abriram à troca de ideias em vez de optarem pelas tomadas de posição cegas, não estará a contribuir para termos um país um nadinha melhor.
E, como na 2ª feira tinha tudo atrasado, só hoje estou a agradecer-lhe.
Mas, voltando ao seu comentário: o Luís sugere que, o que quer que se passou entre os reinados de, vá lá, D. João II e D. João III - talvez a influência dos Reis Católicos - originou esse clima de invejas, denúncias e perseguições? Confesso que não encontro esse factor de viragem que transformou os melhores dos portugueses de então em "familiares do Santo Ofício", com direito a denunciar. E se isso tivesse trazido a felicidade, ainda se compreendia. Mas o país desde então, parece comprazer-se numa atitude lamentosa, no sentimento da própria decadência, na alternância entre "estrangeirados" que nos querem impor modelos - o último terá sido o célebre «a Europa connosco» - e os nacionalistas que contemplam embevecidos as margens do Mondego, o Portugal antigo e por aí fora. Não é estranho?`
É como se houvesse um comprazimento no próprio sentimento de inferioridade, de impotência: ele permite adiar a satisfação para um momento futuro, para um "quando" sem obstáculos, onde a grandeza será, finalmente, possível. Fico a pensar se não será isto a tão propalada «Saudade». Se assim for, então a «saudade» não tem a ver com um passado mítico, a não ser no sentido em que «saudade» seja projecto de uma continuidade.
Não sei se não estarei a descarrilar, mas parece-me que, tirando as letras de fado, esse sentimento português, a saudade, é vontade de futuro, não é nostalgia do passado. O que, se calhar, nos deixa alguma esperança. Oxalá, não é?
Um abraço, Luís. Apareça sempre, não só porque eu gosto de o ver por cá, mas também porque me põe a pensar.

Gi disse...

Mas depois de vos (ao Tacci e Luís) ler alguém tem coragem de comentar? Foi com prazer que vos li
Um beijinho para o dono da casa, ao Luís dou-lho mais tarde,

Tacci não há nenhum desenho para o dia de S. valentim? E eu a pensar que lhe vinha aqui tirar uma rosa vermelha ...

tacci disse...

Pois, Gi, tenho muita pena, mas rosas ainda não há aqui no jardim. E as rosas bravas este ano esqueceram-se de «florir por engano no inverno». Mas já deve ter visto que há um desenhito.
Tinha uma versão mais bonita, com uma letra muito certinha, mas o Blogger disse que o formato não prestava. E eu nem discuti: peguei na caneta, zás, que o artesanato é que é. Como o Blogger ficou satisfeito, que remédio tive eu, era quase meia-noite e o dia de São Valentim estava mesmo a deixar de o ser.
E pronto. Espero que se divirta.
Um beijinho, Gi.