A gente aqui não conhece o Senhor António Balbino Caldeira, do Portugal Profundo. E ele, a nós, ainda menos.
Dizem que, se um tal José Sócrates de Sousa não chegou a ser engenheiro, a ele o deve. Mas, mal-agradecidamente, em vez de ficar contente, não: processou-o. Pessoalmente, se pessoalmente contamos alguma coisa - e até hoje não se viu - a gente acha que não foi a melhor opção. Se amor com amor se paga, nos blogues é a mesma coisa. O Senhor José, se tinha alguma coisa a dizer, bem-educadamente chamava um dos seus secretários e dizia-lhe:
- Pá! Faz aí um blogue para responder a esse paínço.
Mas, a vida tem destas coisas. Em vez desta atitude razoável, resolveu apresentar queixa, a gente não sabe em que balcão: «aquele menino é mau, usou a Net, que é o meio de comunicação mais universal e portanto não serve para isso, para denegrir na minha reputação...»
- Qual, qual? - perguntámos nós, ansiosos e perturbados.
O caso não era para menos: na nossa santa ignorância, lorpa e iletrada, não déramos conta de que ele tivesse uma, a menos que fosse a de ser Primeiro Ministro não sei de onde. Mas isso não acreditamos, nem nós, nem ninguém. Nem o mongas do Quim Gordo que quis ser palhaço, carroceiro, princês, treinador de elefantes e acabou varredor da câmara, alguma vez lhe passou pela cabeça que se pudesse ser tal coisa.
Debruçámo-nos atentos sobre a blogaria.
Éramos uma roda de compadres, todos na casa do povo, à volta do portátil, com o wireless, como eles dizem e que quer dizer que tem arame a menos, e percebemos.
O Senhor Pinto de Sousa, que também assina como Engº José Sócrates, Primeiro Ministro enquanto tal e cidadão...
Olhámos uns para os outros.
Cidadão, cidadões, enfim, éramos todos, excepto o Quim Mongas que não era nada porque já tinha bebido um par de canecas e ressonava que nem um porco, e o Václáv, que, lá por saber umas coisas de computadores, não julgasse que era gente.
Primeiro Ministro é que era o diabo. Não sabíamos o que isso era há tantos anos, um tinha querido continuar a ser e por causa do tabu, outro casou-se e foi para os refugiados, outro ainda teve mais gosto, parece que Bruxelas, enfim, o Filipe da Carlota esteve lá a trabalhar no batiment como plombier e sabe como é, «gajas é o que se quiser, nem é preciso ter dinheiro, leva-zas todas a comer uma de moules et des frites, pás! Tá no papo!»
«Mas podia ser perigoso, lá isso...» «O quê, o papo?» «Não, porra, isso de primeiro ministro.»
- Mas a gente não diz nada?
- E aquele desenho?
Podia ser o desenho. Não dizia muito, mas era solidário, lá isso...
Mas havia dúvidas: solidário, sim, mas com quê?
- Com quê? T'ézés parvo. Então não se vê que é com a censura na Net?
- E então eu agora sou solidário com isso?
As dúvidas agravavam-se.
- Pronto. Telefona-se ao advogado.
Era uma ideia. Toda a minha gente rapou dos telemóveis e desatámos a gritar. Foi preciso o Canina impor-se: «Porra, pá! Chiça! Eu é que falo!»
Vieram mais umas imperiais enquanto ele tentava explicar. O pobre do advogado, mal dele que era um gajo porreiro, perguntou, do outro lado se a gente sabia que horas eram.
É que ele tinha um julgamento em Beja às nove horas e tinha de se levantar às seis...
Ninguém queria saber. A solidariedade é que era importante, o Canina tentou explicar ajudado pelos que ainda não tinham sossobrado, mas, é claro, de um lado só ouvíamos metade, do outro também, de modo que o Canina berrava de cá: «Diz o quê?»
E a gente a apoiá-lo, claro, que é que a gente havia de dizer que não tivesse ainda dito?
- Diz claimer, pá? Ó pá, mas eu não sei dizer essas merdas, pá, isso é estrangeiro ou quê?
Lá chegámos a acordo, a malta desconfia que foi só porque o advogado o que queria era ir dormir.
Então era assim: a gente publicava o desenho do tal Sócrates a puxar as orelhas ao Tacci, mas dizia que não era nossa a responsabilidade.
- Tá bem, pronto. - disse o Marrafas, já a querer ir-se embora. - Mas, se não é nossa, é de quem?
Era um problema. Julgam que a gente ficou agradecida ao Marrafas?
Nem pó.
Com o Jacinto a querer fechar a tasca, o melhor era adiar as questões ingentes e abalar até às nossas esposas amantíssimas que nos aguardavam pacientes, na frescura dos nossos lençois, se não tivesse lá chegado outro primeiro.
8 comentários:
:))))))
anita
Olá, Anita. :))) para ti igualmente.
Um abraço.
AVISO!!!!
Este texto - http://dente-de-marfim.blogspot.com/2007/07/inveja.html - é PLAGIADO do «Abrupto» de Pacheco Pereira!
A menina Kanoff - CUJO BLOG É TODO PLAGIADO - fingiu apagar o anterior blog - e transferiu tudo!
Tacci,
Vim pôr as minhas leituras em dia que ultimamente tenho andado arredada :)
.
Deixo um beijinho e votos de uma noite feliz
P.S. Já vi que gostou do(a) kanoff. Pois ! Nem tudo o que parece é ...
Meu caro, Klatuu o Embuçado, fico-lhe eternamente grato pelo aviso. Salvou-me de eminentes perigos.
Diga-me, se me perdoa a curiosidade, a sua profissão é lenhador?
Olá Gi. Ainda bem que regressou porque lhe senti imenso a falta. Também eu andei um bocado arredado, mas como o bom filho a casa torna, cá estou eu.
Não faço a mínima ideia de quem seja a/o menina/o Kanoff - na blogosfera, o que parece é, enquanto aguentar a verosimilhança, pelo menos - mas deu-me um belo pretexto para inventar a tal história das toneladas de TNT. Já me serviu para alguma coisa, não é?
Um beijinho para a Gi e um bom fim de semana.
Não há nada como o antigamente, resolver á estalada, qual doutores , qual engenheiros, quem vai á guerra dá e leva, assunto arrumado.
saudações
À estalada, meu caro Valente? Acredita nisso? Vê-se bem que em pequeno não foi um trinca-espinhas de um irmão mais novo, como eu. Lá ir à guerra fui, muitas vezes. Mas dar, não dava, só levava. É o que acontece aos pequeninos, seja o Amoreirense contra o F. C. P., seja o cidadão contra o estado, ou um blog contra o primeiro-ministro.
E quando um pequenino, pela manha ou pela arte, consegue dar uma malha num grande, chamam-lhe terrorista e fica com a cabeça a prémiio.
Além do amor-próprio, salva-se alguma coisa?
Um abraço, meu caro. Gostei de o conhecer.
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