Não sei se conhecem esta técnica para apanhar um insecto, uma aranha, por exemplo.
Pegam num copo de boca mais larga do que a dimensão maior do dito insecto, está bem de ver. Depois, esperam que a criaturinha de Deus chegue a uma superfície lisinha, uma parede, a tijoleira da sala ou qualquer outro lado.
Quando a apanharem a jeito, vão devagarinho e zaca! Emborcam o copo em cima do cujo. A aranha não vai ficar muito satisfeita, claro, e é natural que ande um bocado à roda sem perceber como é que aquilo lhe aconteceu.
- Mas, perguntais. Então a gente ficamos com um copo no chão da sala?
Resposta:
- Não. Em primeiro lugar porque não é a «gente ficamos», é «nós ficamos». Ou «a gente fica», prontos, vá lá. E em segundo, é a altura de usar uma folha de papel, branquinha de preferência, e rija. Cento e vinte gramas é o ideal. Faz-se deslizar a folha por baixo do copo, devagarinho, empurrando-o entre a bordas do vidro e a tijoleira.
O animalejo, se for um abelhão voa logo por ali a cima e farta-se de bater com a cabeça nas paredes do copo. Mas a aranha terá de ser convencida a trepar para a folha e a ir-se deslocando à medida que a ela for tapando o fundo. Verão que não é nada do outro mundo.
- Bom, perguntais-me impacientes. - Mas para que queremos nós uma aranha ou um abelhão dentro de um copo com um papel de cento e vinte gramas por baixo?
Confesso que não sei. Eu pus a minha no rebordo da lareira e fica lá muito bem.
Mas não é essa a questão fundamental.
É claro que não sou eu a única pessoa a utilizar esta elaborada técnica.
A Cristina Ataíde montou, a partir dela, uma interessante exposição na Galeria Carlos Carvalho, Arte Contemporânea-Zoom, ali às Laranjeiras, na rua Joly Braga Santos.
Claro que não expõe insectos. E os copos não são tão grosseiros como os que eu uso. Os dela são assim, tipo umas redomas e são muito maiores. Também, tinham de ser. É que, se eu capturo umas aranhas, quatro centímetros o máximo, a Cristina captura montanhas. Esta que está aqui na imagem ao fundo pode ser o Jungfrau, por exemplo.
E tenho de vos confessar que ficaria bastante melhor em cima da lareira do que a minha pobre aranha dentro de um copo. Tanto mais que, a vê-la ali feita estúpida, nem um fiozinho de teia nem nada, olha, faz-me pena e vou ter de a mandar à vida dela.
Mas que é uma técnica interessante, isso garanto-vos eu.
14 comentários:
As suas amigas são umas bem-aventuradas. O seu geito de as apresentar é muito doce.Tenho pena que não seja meu amigo. Quem sabe não estarei na raiz da árvore do desenho do 2 cavalos das coisas boas? retrato-me nas emoções que tenta esconder. às vezes penso se não nos cruzamos no dia a dia e não damos por isso.
Pá, e uma aranha é um insecto? Desde quando?
Xico.
anónima
Minha querida anónima:
Quem me dera que as minhas amigas concordassem consigo. Mas um dia destes, quando se cruzar com um velhinho de cabelos brancos aos quatro ventos, bigode farfalhudo, óculos na ponta do nariz e os bolsos demasiado cheios de coisas inúteis (jornais, revistas de BD, cadernos e canetas, por aí fora), peço-lhe encarecidamente: apresente-se porque, quase de certeza sou eu.
Um abraço e até ao tal «dia destes».
Xico:
Tens razão, pá. As minhas aranhas têm vindo com a etiqueta falsificada. Deve ser mais um daqueles casos de contrafacção e pirataria.
Um abraço.
Gosto de pactos. Saberei reconhecê-lo? Parece-se com o senhor do desenho do post "é a saúde,estúpido"? Do que se retratou, na resposta ao meu comentário, veio de encontro ao meu imaginário. Só que o via também com um cão. E vamos lá a ver se gosta mesmo de BD. Conhece Miguelanxo Prado?
A anónima cujo nickname é gavoita do mar
Quem sabe se perco o pudor e lhe escrevo um mail dizendo-lhe o meu nome.
Gaivota do Mar:
Não imaginou realmente mal: ando frequentemente com o meu cão, mas ele recusa-se a acompanhar-me dentro dos meus bolsos - concordemos que tem alguma razão, por maiores que eles sejam (os bolsos), um cão de quarenta quilos (como o meu)sentir-se-ia um tanto apertado. E cá fora, à vista de toda a gente, está sempre a acontecer o que se passou no outro dia quando não nos deixaram entrar na coleção Berardo. Negam aos cães o direito à cultura.
Atenção, no entanto: sou só muito vagamente parecido com o boneco que representa o Tacci. Pertenço ao restrito número daqueles infelizes a quem fazem a caricatura e toda a gente acha que fiquei muito favoracido.
Quanto à sua pergunta - embora eu só costume responder na presença do meu advogado (como me ensinou o meu amigo Jorge Nuno), esta fez-me lembrar o exame da quarta classe onde me punham exactamente a mesma questão. Era no tempo em que não havia Google nem aquela... qualquercoisaòpédia. Tinha de se saber de cor, e eu as outras não me lembrava, mas essa era canja! Escrevi logo que o Miguelanxo Prado - que à altura não se chamava assim devido à censura de Madrid - nasceu em Haifa, foi companheiro de um tal Ernesto Guevara no Sacro Colégio de Gao, e fez várias viagens ao serviço tanto da Coroa como da Caras, tendo descoberto várias ilhas entre as quais as famosas Teik'auey. No fim da vida, para além dos vários relatos de viagem a que deu o nome de "Peregrinação: da Madragoa a Karn-idde", escreveu ainda a sua obra máxima, uma obra de reflexão profunda hoje conhecida pelo seu nome latino: "Zpratshzidoitx".
Ainda hoje estou para saber porque é que me chumbaram, com uma resposta assim, tão completa.
Mas adiante.
Acho, de facto, melhor ideia mandar um mail. Não é que eu não adore contar histórias aqui na caixa de comentários.
Mas sempre é outro recato, não é?
Um abraço e até «um dia destes».
eu tenho uma gata e um cão. A gata chama-se Andorinha e o cão Rover.È um dalmata,está velho como eu que também já tenho cabelos brancos; a gata é rafeira-tigrada. Quando passeio com o Rover ninguém acha estranho. Quano levo a passear a Andorinha olham-me como velha doida
Gaivota:
A Margarida Rebelo Pinto escreveu um livro chamado "Não há coincidências".
Já leu?
Não nunca li nada da Margartida Rebelo Pinto. Vale a pena?
Olá outra vez! Quando comecei a ver o seu blog, este foi o primeiro post que me "puxou" para ler. Primeiro porque achei a foto interessante e depois como o caça aranha vai dar no caça montanhas da cristina é maquivel!!! beijocas, joana
Estou agora a sonhar com outras coisas que se possam ou devam também captar...
joana
Gaivota do Mar:
Não, definitivamente, a Dona Ma'ga'ída 'Ebelo Pinto não é leitura que eu recomende.
Um abraço.
Beijinho, Joanica. Ainda bem que apareceu por aqui.
Não, o post não é maquiavélico, pelo menos da minha parte. Agora, a Cristina andar assim a capturar montanhas com uma redoma de vidro...
Mal acomparado, faz-me lembrar o caçador de crocodilos que levava um binóculo, um pinça, uma caixa de fósforos, um despertador e um um romance da Agostina. E não lhe escapava um só, por mais feroz que fosse.
Se não comhece o resto, um dia eu conto-lhe.
Outro beijinho.
Enviar um comentário