terça-feira, junho 30, 2009

Que fizemos do luar de estio?


Que fizemos do luar de estio em que os corpos se atormentavam em desejos e tabus?
Que resta das noites claras em que a palavra afagava o silêncio
das bocas suspensas no amor?
Que sobra de nós nos gestos invocados no tempo incerto
dos dias vazios de sol e de mar?
Tanto tempo demorado na memória
dos sonhos por fazer!
Agora lavro o tempo onde receio que rosa alguma florirá
(e contudo, insisto teimo e semeio)
José Alberto Damas

10 comentários:

Anónimo disse...

Gosto muito do desenho e do poema também

anita

tacci disse...

Obrigado.
Ainda bem que gostaste.

Anónimo disse...

Envelhecemos, e custa-nos assumi-lo.
Badesse

ana disse...

nem mais, badesse

tacci disse...

Meninos:
Lembrem-se do que disse o Somerset Maugham: "não sei como consegui viver tantos anos sem as compensações da idade".

Anónimo disse...

Creio que, mais do que não assumir o envelhecimento, que é sempre uma problemática relação com a morte, o que nos afecta é a relação com o tempo, com a memória. Isto porque, no meu entender, o futuro apenas existe enquanto projecção do tempo em que nos fomos fazendo. E este nem sempre é muito interessante!
jad

ana disse...

o jad tem alguma razão. Mas o tempo ás vezes não nos faz, mesmo contra nossa vontade? os nós que a vida nos lança sem notarmos..e se formos gente de bem se calhar não usamos a espada para os cortar

jad disse...

Hoje tenho dois comentários.
O primeiro é para o Tacci e a sua ampulheta deitada, como se o tempo se compusesse à medida que o vamos habitando ou "lavrando". Não é uma ilustração. É uma imagem-poema. E é linda!

O segundo é para dizer que a Ana tem razão! Somos incapazes de dominar o tempo. Estamos-lhe sujeitos, mesmo sem querermos ou nos darmos conta. Só que não conseguimos viver na permanente insegurança em relação a ele. Então, racionalizamo-lo, contamos histórias, pintamo-lo ou escrevemos talvez poemas com que criamos os nossos próprios amparos pretendendo assegurar-nos de que amanhã continuaremos. Mas, "às duas por três", pimba! lá se vão os planos, as histórias e a racionalização. Voltamos à nossa frágil condição humana... E continuamos a saber que nada sabemos (bom, quase nada!...). Provavelmente... amanhã voltaremos ao Portugal, Caramba.
Jad


Mas aqui tenho que dizer-te que a

jad disse...

"Mas aqui tenho que dizer-te que a" está obviamente deslocada e não se destinava ao Portugal, Caramba. As minhas desculpas especialmente ao Tacci e à Ana.
jad

Mário de Sá Carneiro disse...

"...
A grande ave doirada
Bateu asas para os céus,
Mas fechou-as saciada
Ao ver que ganhava os céus.
Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.
..."