sexta-feira, dezembro 29, 2006
Alcaïns - 3
quinta-feira, dezembro 28, 2006
Alcaïns - 2
Alcaïns - 1
quarta-feira, dezembro 20, 2006
- Sim, titi.
Numa sala forrada a papel escuro, encontrámos uma senhora muito alta, muito seca, vestida de preto, com um grilhão de ouro no peito; um lenço roxo, amarrado no queixo, caía-lhe num bioco lúgubre sobre a testa; e no fundo dessa sombra, negrejavam dois óculos defumados. por trás dela, na parede, uma imagem de Nossa Senhora das Dores olhava para mim, com o peito trespassado de espadas.
- Esta é a titi - disse-me o Sr. Matias. - É necessário gostar muito da titi... É necessário dizer sempre que sim à titi!
Lentamente, a custo, ela baixou o carão chupado e esverdinhado. Eu senti um beijo vago, duma frialdade de pedra; e logo a titi recuou enojada.
- Credo, Vicência! Que horror! Acho que lhe puseram azeite no cabelo!
Assustado, com o beicinho já atremer, ergui os olhos para ela, murmurei:
- Sim, titi.
Eça de Queiroz, A Relíquia
segunda-feira, dezembro 18, 2006
"...intimidação cruel."
sexta-feira, dezembro 15, 2006
Hainnish Mãe
Debaixo da cama
Tenho um lobo mau.
E no meu armário
Vive um animal.
Mas no quarto ao lado
Dorme a minha mãe
Que guarda o meu sono
Como mais ninguém.
quinta-feira, dezembro 14, 2006
O absurdo máximo é viver e morrer! Ser e não ser! A vida é um sim que significa - não! O homem exclama: sim! Os ecos respondem-lhe: não!
Erguer e deitar abaixo! Fazer e desfazer! Deus, o que há de infantil na tua Obra!
O culto do Menino Deus! Deus é o Deus Menino. Lá está num altar da minha igreja, e tem o mundo na mão. Para quê? Para brincar com ele.
A esperança desespera, o amor odeia, a razão endoudece! É o desvario infantil que vem da Origem e trespassa todas as cousas...
E a Morte? O prazer com que ela mata certas pessoas! É uma criança a esfarrapar uma boneca.
A Criação é uma obra infantil, porque Deus é o Deus Menino. O velho barbudo de Israel é um pesadelo do Deserto.
Teixeira de Pascoaes, O Bailado,«Sombra e Pedra», VI a XI
sábado, dezembro 09, 2006
O velho, a carroça e o burro
Era uma vez um burrico, como qualquer burrico que dantes por aí andavam, de carga às costas ou a puxar pela carroça. Não tinha nome sequer, era o «arre burro», o «estupor do burro», quando não era pior.