"...Na sala de aula do velho liceu a sua mesa alinhava-se numa fila lateral, havendo um espaço entre esta e a parede onde, a meia altura, se postavam as janelas amplas.
O padre Cristóvão gostava de colocar-se naquele espaço, em que a figura se lhe recortava contra a luz nas suas costas...
... ao aproximar-se o Natal, o padre Cristóvão narrava que José, vendo avolumar-se o ventre de Maria sabendo que para isso não dera causa, decidira fugir sorrateiramente de casa pela calada da noite - usava mesmo estas expressões feitas - mas eis que lhe saía oa caminho o arcanjo e o interpelava: «Ó José, o que vais fazer?» O «Ó» gritava-o o padre Cristóvão com todo o fôlego de acólito escandalizado, provocando nos alunos um riso incontido.
Era sábia, a intromissão daquele grito na narrativa. O padre tinha acabado de franquear os limites de um tabu ao reportar-se ainda que subentendidamente a uma prática sexual - naquele tempo estudava-se na Botânica o androceu e o gineceu das flores e os modos de polinização, mas na Zoologia omitia-se qualquer referência aos aparelhos reprodutores dos animais e não se falava em fecundação - por isso havia que fazer os alunos de imediato a excitação criada com o pequeno passo em terreno proíbido. Francamente, só mesmo um padre se podia permitir falar numa aula de sexualidade humana, ainda por cima na de Maria."
Sérgio de Sousa, Na senda dos utopistas, «Blow-up», Lisboa, 2001
11 comentários:
Vim retribuir a visita Tacci :O) e já agora se me puder satisfazer a curiosidade...quem e o autor das aguarelas que ilustram alguns dos seus post's (os que não estão identificados? )
Obrigado pela visita também, Gi. Como pode ver pela fraca qualidade, todos os bonecos são meus, excepto, claro, a capa do livro de Arnaldo Futscher que encontrei numa feira de velharias em Belém. Por vezes ponho o nome da pessoa retratada por baixo, outras vezes esqueço-me: não sou lá muito disciplinado.
Um abraço e volte sempre.
Está a ver Tacci, eu não lhe disse já que os seus trabalhos merecem uma exposição, mesmo em diminutivo como você se lhe referiu?
A ideia está de pé e teríamos todo o gosto em vê-la posta em prática. Não quer pensar nisso?
Cabeça a minha, peço desculpa pelo esquecimento, mas os votos de saúde para si e todos os seus só por lapso não finalizaram o comentário anterior.
Tacci. Posso tirar uns para pôr no meu espaço? Merece ser divulgado. Vistos daqui parecem-me mesmo muito bons
A Gi e o Atirei o Pau ao Gato são das pessoas mais simpáticas que já vi. É verdade que sempre gostei de desenhar; infelizmente nunca me foi possível (!) aprender disciplinadamente e os bonequinhos saem-me bem umas vezes, a maior parte das outras é melhor não falarmos nisso. Agora, com um pouco mais de tempo e um blog, vou fazendo umas quantas experiências.
Se o Atirei o Pau ao Gato tiver a paciência de esperar uns três ou quatro meses, talvez possamos pensar melhor na sua proposta que agradeço imenso.
Por seu lado, a Gi pode tirar o que achar que não desmerece do seu blog que é lindo. Se resolver escolher alguma coisa, vou ficar altamente lisonjeado.
Vocês os dois vão-me fazer inchar de vaidade. Vou passar a andar por aí com o nariz tão empinado que hei-de tropeçar em tudo quanto é pedrinha do caminho.
Bem hajam.
Olá :0)!
Segui a sugestão da Gi e vim espreitar o seu blog, muito principalmentes os "bonecos"... Gostei do que vi, do que li e do que fiquei a pensar a seguir. Vou continuar atenta!
Fique bem.
Desculpe não ter assinado o post anterior.
Bolacha
Olá Bolacha. Seja bem-vinda. Obrigado pela sua visita e apareça sempre.
Claro que podemos esperar esses meses, não há qualquer problema por isso. Não temos dúvidas que vale a pena fazê-lo. Pelo que se vê aqui o seu trabalho merece ser visto por outras pessoas. O mundo é sempre melhor, é sempre mais bonito de se ver quando lhe acrescentamos um pouco mais de beleza e é isso que vemos nestas suas pinturas.
Fica pois em agenda e daqui a uma mão cheia de meses não nos iremos esquecer desta conversa.
Os melhores votos de paz e saúde, Tacci, para si e todos os seus.
Luís F. de A. Gomes
Obrigado, Luís.
Fica combinado, então: daqui a uns meses revemos a situação. Até lá vá aparecendo sempre que lhe apetecer. Eu faço o mesmo regularmente, no Largo.
Um grande abraço.
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